22 de março de 2010

Eu posso

Nasci na década de noventa, enquanto sou da década de 50 e só vivi a parti dos anos dois mil. Vivo com muita pressa de ver de perto futuro e, por uma leseira qualquer, lembro-me só agora do quão agradável era o meu passado.
Fico mais motivada e também mais atormentada quando ouço Chico Buarque e leio Vinícius. Ou quando ouço Vinícius e leio Chico. Também quando vejo Chico e absorvo as cartas de Clarice.
Obviamente, aos meus benditos 15 anos não sei muito de História e não me sei me situar na linha do tempo. Essa coisa de 50, 90, 2000 me deixa um tanto confusa.
Sempre fui Romântica, mas só fui saber o que é ser Romântico de verdade nesses últimos tempos. Tenho ideias Iluministas, mas não sei ao certo como se viveu o Iluminismo.
Não sou um estereótipo e não gosto nem um pouco dessas baboseiras modernistas. Se não sou isso, sou aquilo, se sou aquilo não sou isso. E depender muito do isso ou do aquilo para me posicionar socialmente me deixa um tanto quanto enfadada. Não gosto só do Chico. Ouço Rock, Punk, Hardcore, Blackmusic, Fábio Júnior, Elton John, The Beatles, conheço algumas faixas do forró Dejavú e arranho muitas músicas que passam na Jovem Pan. Não gosto só do Vinícius. Leio Capricho e já assinei Witch. Não tenho como ídolos apenas artistas, admiro todo santo dia o operário que suja suas mãos – limpas de dignidade-, com o concreto que para nada lhe servirá.
Sou o que o sol do dia me oferece. Me visto de acordo com o meu humor, que também não pára.
Sou um pouco avoada e demoro a fazer associações. Costumo derrubar todo tipo de líquido(o que estiver na mesa) mais de uma vez por semana e quebro copos, pratos, afinal, qualquer porcelana, vidro ou ser quebrável numa frequência consideravelmente intensa. Não tenho mania de organização nem de limpeza. Meu quarto vive numa desorganização fora do comum e, confesso, não amo o “meu desarrumado”. Mas também não o odeio ao ponto de colocar tudo no lugar. Adoro me sentir limpa. Depois de um banho me sinto pronta pra tudo. Mas também não adoro tanto que tome banho quando chego de uma festa madrugada a fora.

Sinto falta do Rio de Janeiro, mas nunca morei. É como a confusão das décadas. Às vezes também não sei me situar no mapa. Gosto de ir a praia a noite, preferencialmente sozinha. Me fizeram gostar (mas gostei de primeira) do Baixo Leblon, da Lapa, do BG e da Farme. Amo Brasília. Mas só Brasília. As palavras Distrito Federal me irritam e igualmente as cidades satélites. Mesmo morando em uma.
Não entendo nada de política. Entendo um pouco de gente.
Odeio chopp, cerveja ou qualquer coisa que tenha relação com a cevada. Talvez um dia eu goste. Amo a capirinha, o scoth, o licor e o vinho. Adoro drinks gays como saquê, caipifruta, lagoa azul e sex on the beach. Adoro gay. Nem sempre correspondo ao meu amor por tais bebidas. Não bebo... Mas já bebi e vou beber. Não fumo e acho o cigarro desnecessário. Não condeno quem fuma e não forço meu vício. Não me incomodo com fumaça de cigarro. Odeio bêbados e acho super divertido ficar bêbada.
No dia-a-dia, admiro mais mulheres do que homens. Tenho a auto-estima baixa e às vezes quero ser magra, alta, loira, sedutora e famosa, sim. Acho minha voz irritante, a minha risada ridícula e minhas brincadeiras uma tragédia. Falo muito alto. Não me importo em ficar de pernas abertas. Não controlo a minha postura.
Gosto dos meus sentimentos e cometo o erro de tentar reproduzi-los da forma mais original possível. Impossível.
Adoro escrever, mas como em tudo na vida, não tenho técnica e às vezes fico milênios sem escrever algo agradável aos olhos. Quanto à Clarice, adoro a sua complexidade, mas não compreendo boa parte das suas obras. Absorvo o que acho que pode ser, mas nunca se sabe...Comecei amando teatro. Hoje amo ainda mais e vivo bem melhor com a arte. Não sei se sou atriz, mas construo personagens, se quiser. Quero aprender teatro até morrer e se eu puder um dia me sustentar da atuação não vai ser nada mal. Posso fazer Jornalismo e trabalhar com Produção enquanto isso.

As minhas músicas preferidas costumam ser Brasileiras. As tradicionais e as novas. Mas não sou muito chegada a Caetano e a Elis. Não conheço tanto assim de João Gilberto. Acho o Cartola foda e o Pixinguinha um fofo. Tenho LPS do Chico mas é só pra dizer que tenho. Meus CDs Vinicius por Mabê, Isabella Taviani, Maria Gadú, Ana Carolina, Nando Reis, Luiza Possi, Martnália. Ah, eu amo samba! Mais ainda o de bateria! Sou Portelense mas adoro a Grande Rio e a Viradouro.

Acho lindo ser apaixonada, adoro ler os poetas da segunda geração romântica e sou quase adepta ao mal do século.
Sou espírita. Amo a Umbanda. Queria ser filha de Iemanjá. Quero ser que nem o Chico Xavier um dia, se puder. Tenho uma família tão complicada quanto eu e estamos sempre tentando manter o controle. Procuro minha força em mim mesma. No máximo e quase sempre na natureza também.
Adoro ler, mas nem leio muito.
Me assusto quando lembro que tenho 15 anos. Maldita década de 90.
Me empolgo quando penso no tempo que há pra viver.
E ai volto a pressa de ver de perto o meu futuro.
Odeio estereótipos, mas acabo de me estereotipar.
Eu posso.

12 de março de 2010

Ei, você.

Se eu disser que não sei, eu estaria mentindo. Se eu disser o por quê, eu também estaria mentindo, por que eu não sei. Não é sofrimento, não é tristeza, é dor. É uma dor interior, que não sei de onde vem e até quando fica. É uma dor de decepção de si, somente si. É uma dor de medo, de perda, de falta de palavras. É uma dor.
Não quero dramatizar nada, não estou. A não ser que essa dor seja dramática... mas não me importo no 'gênero' dela. Ela me incomoda e isso me importa.
É impossível explicar a falta, o quanto ás vezes me sinto sozinha. Não por falta de amigos, mas por falta de irmã. A irmã que eu não tive. É impossível acreditar que enfraqueceu algo tão intrínseco e mais impossível ainda é aceitar que a maior 'culpada' tenha nome: Eu. Saudade não mata, não está me ensinando a viver e tampouco sendo bom. O termo 'bom' da saudade não anda comigo... Aliás, grande parte do que eu quero não anda comigo, não como eu queria. Acontece.
Sempre insegura, com medo de perda e ele aumentou. Agora com força. Me incomoda comparar o antes com o agora. A certeza com a dúvida. Me incomoda pensar que tenho medo, que outras se fortalecem e gostam disso. Na questão 'outras' é o de menos. Ciúmes não é o ponto climax e também não é fato que me incomode tanto. Me incomoda tanto pensar que o antes não volta. E que a música é clara: "Nada do que foi será de novo de um jeito que já foi um dia."
Eu queria tanto... tanto. Queria acreditar que isso é possível. Não quero que estanque, que acostume, que normalize. Não é normal. Quero poder ligar toda hora, sem que force. Quero poder compartilhar bons e maus momentos, com naturalidade. Quero poder, quero ter, quero voltar, quero tudo, menos isso. Retorno, eu quero. A de sempre, eu quero. E poder perceber que não adianta, eu sempre vou querer. Por que é a minha, é a única, é a necessidade, é a melhor: amiga.
Eu.




(Texto escrito por Juliana Tavares)