30 de setembro de 2010

Oração a mim mesmo.

"Que eu me permita
olhar e escutar e sonhar mais.
Falar menos.
Chorar menos.
Ver nos olhos de quem me vê
a admiração que eles me têm
e não a inveja que, prepotentemente, penso que têm.
Escutar com meus ouvidos atentos
e minha boca estática,
as palavras que se fazem gestos
e os gestos que se fazem palavras.
Permitir sempre
escutar aquilo que eu não tenho
me permitido escutar.
Saber realizar
os sonhos que nascem em mim
e por mim
e comigo morrem por eu não os saber sonhos.
Então, que eu possa viver
os sonhos possíveis
e os impossíveis;
aqueles que morrem
e ressuscitam
a cada novo fruto,
a cada nova flor,
a cada novo calor,
a cada nova geada,
a cada novo dia.
Que eu possa sonhar o ar,
sonhar o mar,
sonhar o amar,
sonhar o amalgamar.
Que eu me permita o silêncio das formas,
dos movimentos,
do impossível,
da imensidão de toda profundeza.
Que eu possa substituir minhas palavras
pelo toque,
pelo sentir,
pelo compreender,
pelo segredo das coisas mais raras,
pela oração mental
(aquela que a alma cria e
que só ela, alma, ouve
e só ela, alma, responde).
Que eu saiba dimensionar o calor,
experimentar a forma,
vislumbrar as curvas,
desenhar as retas,
e aprender o sabor da exuberância
que se mostra
nas pequenas manifestações
da vida.
Que eu saiba reproduzir na alma a imagem
que entra pelos meus olhos
fazendo-me parte suprema da natureza,
criando-me
e recriando-me a cada instante.
Que eu possa chorar menos de tristeza
e mais de contentamentos.
Que meu choro não seja em vão,
que em vão não sejam
minhas dúvidas.
Que eu saiba perder meus caminhos
mas saiba recuperar meus destinos
com dignidade.
Que eu não tenha medo de nada,
principalmente de mim mesmo:
- Que eu não tenha medo de meus medos!
Que eu adormeça
toda vez que for derramar lágrimas inúteis,
e desperte com o coração cheio de esperanças.
Que eu faça de mim um homem sereno
dentro de minha própria turbulência,
sábio dentro de meus limites
pequenos e inexatos,
humilde diante de minhas grandezas
tolas e ingênuas
(que eu me mostre o quanto são pequenas
minhas grandezas
e o quanto é valiosa
minha pequenez).
Que eu me permita ser mãe,
ser pai,
e, se for preciso,
ser órfão.
Permita-me eu ensinar o pouco que sei
e aprender o muito que não sei,
traduzir o que os mestres ensinaram
e compreender a alegria
com que os simples traduzem suas experiências;
respeitar incondicionalmente
o ser;
o ser por si só,
por mais nada que possa ter além de sua essência,
auxiliar a solidão de quem chegou,
render-me ao motivo de quem partiu
e aceitar a saudade de quem ficou.
Que eu possa amar
e ser amado.
Que eu possa amar mesmo sem ser amado,
fazer gentilezas quando recebo carinhos;
fazer carinhos mesmo quando não recebo
gentilezas.
Que eu jamais fique só,
mesmo quando
eu me queira só."

23 de setembro de 2010

Pode-se dizer que ela vivia.

Ela vivia em teatros, em ensaios e em cafés..
Vivia em casas familiares, fazendo lanches em fim de tarde
Dormindo tarde entre conversas adolescentes.

Ela gostava do cheiro de terra molhada
e, quando sozinha, tinha medo do vento.

Ela vivia ignorando paixões
E vivendo sonhos.
Vivendo a sua arte
e o seu amor...

Ela vivia por saber que podia viver.
Nenhum risco corria.

Vivia em casas de madeira
em que bruxas e anjos decoravam

Ela andava por aí,
com as sua saias no pés

Andava por aí com as suas unhas coloridas e compridas
seus anéis de côco
Seu cabelo semi pintado...

Ela apreciava as músicas por suas melodias
E por lembrarem-na
de suas aspiraçoes.

Pode se dizer que ela vivia
em seus sonhos.


Hoje o caos do mundo real a acordou
O barulho foi tanto que pôde atrapalhar seu sono tão profundo...

A menina que nem sabia que seu coração tinha outras capacidades a não ser sonhar,
anda com este, louco,
que disputa com o mundo quem bate mais forte.

Anda por aí tentando ser ouvida,
e tentando ouvir.

Por vezes ela acredita que poderia ter resistido um pouco mais
e mais tempo ter dormido.

A noite, quando se deita, ela fecha os seus olhos e com força mentaliza o seu tão lindo mundo dos sonhos.
E pede ao Papai do céu que a leve até ele.

Dizem que desejos e imagens pensadas intensamente podem se concretizar.

Quando acorda, engole o gosto amargo de ter que encarar a correnteza.

Mas também dizem que tudo o que foi vivido
continua acontecendo.
São ondas que pairam sobre o universo.

Então ela segue a procura do encontro com o registro de seus momentos...

Durante o dia,
ela tem seus pelos arrepiados pela saudade
tem vontade de chorar,
mas não consegue.

Outras vezes ela acredita que o mundo de mentira é este aqui.

E por isso deixa escapar alguns olhares brilhantes, de esperança.

Outras vezes, ainda,
ela chega a aceitar o fato de um novo mundo.

Mas com a condição do silêncio.

Pode-se dizer que ela quer paz.
Ela sente falta
do conforto de morar em um mundo que lhe caiba.
ela sente falta de poder explorar cada canto...
cada brecha....
Ela sente falta de morar em um mundo grande.

Hoje, nesse mundo limitado, ela vai se ajeitando.
Procurando uma posição que não doa.

Pode-se dizer que ela mora em um mundo pequeno.

20 de setembro de 2010





Queria morar pra sempre aqui.

15 de setembro de 2010

Felicidade não tem fim... Tristeza sim.

Existe uma grande força que me impulsiona
Em viver sabendo a semente que planto
Escolha feita por mim e por mais ninguém
Pensando apenas na alegria da chegada e na luta da estrada
Felicidade existe.
E por isso continuo a caminhar.
Companheira ela ainda não é, pois ainda não existe o seu lugar.
Mas cada vez mais me refaço e me fortaleço
Para a tristeza também não há abrigo.
Estrada de trabalho a que caminho
Eu vim para servir,
Eu vim fazer brotar
a felicidade
em mim
.
.
.
.
Eu semeio felicidade
pra eternidade...


eternidade...

12 de setembro de 2010

Vivo em um mundo que não me pertence.


Não vou ser nada que já não me caiba.
E me satisfaz ser o que já me coube em um passado nem tão distante...
Saudade do video-game. Do rock. Das amigas.
Da casa e da chuva na fazenda.
Do início de uma vida ainda tão nova e já tão esquecida...
Uma ansiedade-vontade do passado.
Uma saudade pressentida do futuro.
A insistência do clichê:
Saudade da inocência, do não saber por não querer, da pressa boa, da imunidade merecida.
Saudade dessas de amor...
Vontade exacerbada de um mundo que nem parecia tão complicado.
De cor mais azul, onde desrespeito, violência e incompreensão eram palavras de ouvido, que assustavam, mas não conseguiam fazer alusão ao mundo que hoje me coloco.

Pequenas vidas, se fechem sim na bolha.
Pintem sim os seus mundos e, se puderem, adiem a vinda para o mundo-moinho.
Aqui a felicidade é falsa e passageira por saber-se como tal.
Não se é triste com o corte no pé.
Mas já não se sabe se de fato é tristeza o que sentimos a cada pulsar do coração.
Aqui nem mesmo ela é muito liberada
para quem sonha.
É limitada, porque a covardia também deve ser momentânea e falsa.

Um mundo moinho que pede amor.

Esse é o grande desafio.

Se pudesse,
parava o relógio pra que mais tempo vocês pudessem viver nesse mundo bom - fantasiado, mas onde é mais facil amar.
Assim tambem retardaria a obrigaçao de viver minha coragem à luta que me espera.

Mas é claro que as horas ficariam insatisfeitas e voltariam a me roubar os tentos...

Logo eu ali de novo.



(Espero o tempo em que o mundo ame. Amarei mais facilmente.
Mas todos sabemos que não se trata de soluçao
Trata-se de consequência.

Eu moro aqui.)

7 de setembro de 2010

Vende-se.





Meu coração deveria ouvir os avisos da minha alma.
Com isso nada tenho a ver.
Mas sinto suas batidas sempre tão fortes e aflitas,
E ao mesmo tempo o latejo na minha cabeça.
Por vezes o coração se acalma, mas os avisos parecem apenas ter dado uma brecha.
Uma verdade que, de vez em quando, deixa se passar por mentira.
Fato é que meu coração é louco.
Só se acalma com doses altas de ilusão.
Doses estas que cegam e ensurdecem ainda mais.
(Ele deveria ouvir mais vezes a alma.)
Doses estas que cada vez mais enfraquecem e viciam o coração.
Pois é tão triste voltar para a realidade...
Voltar é o problema. Nunca ter saído é a solução.
Solução existente se não houvesse o problema.
Portanto deficiente este coração.

E a alma se sente culpada como uma mãe que tenta proteger o filho mas não consegue livrá-lo do sofrimento.

Mas com isso nada tenho a ver.
No máximo empresto-lhe, ao coração, os olhos para que possa derramar o excesso de cansaço que dentro de sei guarda.

Tantas tentativas e o vício de não se amar.
Tanto amor dentro deste coração e ele não mora aqui.
Faz troca. Insiste em abrigar pessoas inconfiáveis e em morar em becos,
Lares tão maltratados quanto o seu.

Seis por meia dúzia.

A realidade sim é dura.
Quando, ao voltar para o seu lar, vê tanto amor que ninguém quis, a sua casa tão mal amada, tão destruída e mal cuidada.
Sem focas mais uma vez ele cede.
E nunca ninguém cuida dessa casa solteira e só.
As doses de ilusão não resolvem... De porta em porá ele continua, aproveitando a brecha da alma.
Mas sempre torna a realidade.


Meu coração não é muito diferente de tantos.
Mas eu gostaria que assim fosse.
Alma essa que tanto avisa,
Que tanto dá respostas sem ter perguntas.
Meu coração não questiona, nem curioso é....
Talvez por isso não ouça as respostas necessárias ao seu desespero.
Meu coração não se ama e só sabe amar.
A casa já é pequena demais para ele e sua bagagem enorme de amor.
Mas pequena só para ele.
Pois casa esta que todos abriga e a todos conforta.
Todos com um pouquinho de amor, que nada é comparado ao dele.
De tão fracos e falsos acabam, e a casa continua mal cuidada.

Talvez por isso: caridoso demais,
Dá sem ver a quem
Abdica do seu lar para que seus outros semelhantes tenham aonde morar.
Por isso sofre este coração louco.

Tantas metáforas para dizer que a mais sensata é a alma.
Mas eu sou coração.
Sim, com tudo isso tenho a ver.


Eu não moro mais em mim.