13 de novembro de 2013

Anoitecer



Anoitece
E a noite tece
O meu desejo
Nu

À noite,
Se quer
Ser
Um só
Ser

A noite
Sequer ceia
Antes de dormir

Dorme faminta a noite
Durmo faminta à noite
Eu durmo a noite
E a noite me dorme
Me sonhando
Você

(A noite se
Debruça
Sobre o nosso amanhã-ser
E dorme)
A dor,
Meu ser,

A dor passa.

A dor,
Meu céu,
É aprender

Que tudo passa.
gosto muito do teu momento
beijo
do teu gosto
doce
gosto muito
dessa tal coisa
a que chamamos pertencimento

gosto do nosso argumento
desse gosto de recebimento

te recebo
me envio

você é meu desvio
extravio
de mim

extravivi
o que sabia que era
extravasão
dei vazão
ao transbordo

pra além

do chão.
Você
Quando foi
Me cicatrizando
Também
Me doeu

Eu
Quando fui
Te cicatrizar
Foi tentativa
De esquecer
O que doeu

Mas ainda dói
Só não rói
Mas tudo o que sara
Dói enquanto cura

E eu ainda estou te curando
Te colocando
Na estante
Do que já
Morreu
Quando se trata de amor
Há que se ter um pouquinho de dor
Pra poder falar

Pelo menos pra mim,
Não que o amor só seja bom se doer,
Mas só se doer que é amor,
Só se for tanto que chega a ser dor
Desses que crescem até (quase) romper
Tá chovendo. Por que a chuva faz a gente ter tanta saudade? Existe algo na chuva, algo além do frio, algo além do barulho, parece algo que ressoa tudo o que não foi. A chuva sempre parece ser a preciptação das coisas que se abreviaram. Como se as nuvens guardassem em si todas as palavras não ditas, os momentos que estivemos juntos e que eu não disse que te amava, nem peguei na sua mão, nem tentei me aproximar. O céu guarda essas coisas, é isso, e aí precipta nesses dias nublados tudo tudo o que não foi. E te chama em forma de saudade. No arrepio do meu corpo.
E eu derramo o chocolate quente, e se fosse vinho também transbordaria, nem tudo que esquenta é como o seu corpo, nem tudo que esquenta é como você, ta aí a prova, tentei dormir e não consegui, e quanto aos livros... Ainda parece que você está aqui. Tudo me acende, tudo te falta, e tudo te tem.
A poesia não é anestesia
É justamente
O contrário
Passou a ter um medo sincero de ser superficial. Perguntava a todos que conhecia. Você acha que eu sou superficial, acha que estou falando demais, talvez um pouco alto, concorda? Estava procurando a sua alma, era como uma roupa perdida no meio de um armário bagunçado, era como achar uma pequena chave em uma bolsa grande. Tinha medo de ter perdido a sua alma. Aquele susto que dá no peito quando se percebe que algo não está mais ali. Não conseguia chorar. Suas emoções encontravam paredes firmes, bem feitas, e ela nem viu quando elas se ergueram. Devem ser as dores, elas são tijolos. Meu Deus, estou subindo cada vez mais para a superfície de mim, meus olhos já não devem dizer mais nada, algumas lágrimas se penduram em minhas pálpebras, mas não largam, não descem, meu peito não arfa. O que é que há, minhas janelas só tem a vista, não tem ninguém observando. Me desculpa, eu falo um pouco alto, e falo sempre, mas não sei bem o motivo, talvez eu só queira estar presente, talvez eu só queira fazer parte, mas talvez você nem me enxergue. Você me enxerga? Eu não me enxergo, talvez eu precise de ajuda, me mostra onde tá a minha alma, minhas janelas já estão abertas, entra aqui e quem sabe você não acha a minha alma em algum canto, atrás do sofá, às vezes o meu olho não viu.
Seus olhos viam, ou será que não viam e este seja exatamente o ponto, mas seus olhos brilhavam, eram disponíveis, era um corpo disponível no mundo, um corpo como qualquer outro - mas nem tão entregue, simplesmente um corpo disponível para as provocações do mundo. Hoje fala pelos cotovelos, e fala rouca, fala tanto que dá tudo de mão beijada, não tem muito mistério, seus olhos são um pouco ocos, o que é que há, não sei, me quebrem as paredes, pulem a janela dos meus olhos e procurem a minha alma até que ela seja vista. Me ajudem, podem abrir tudo, escancarar, abrir as portas, enxaguar a poeira, entre, a casa é sua, ache algo que ainda seja vivo e diz que esse algo sou eu.