17 de agosto de 2011

Alienar: Tornar-se alienado; manter-se alheio aos acontecimentos.

Fica o dito pelo não dito
E então eu me recolho ao âmago do meu corpo
Que tem me dito:
Felicidade desconhece universalidade

Mesmo que seja essa afirmação sempre mais vívida nos momentos de decepção
Afirmo que:
Só há felicidade onde também há alienação.

Parece que Vinícius tinha razão quando dizia que a tristeza nunca termina
E a felicidade sim
Como se o branco estivesse sobre o preto
E não o preto entre o branco

Sempre preferi acreditar que quem tem fim é a tristeza
Mas durante a nossa existência
Terei de me convencer que se aqui paro para refletir
E o meu pranto que tantas vezes já esteve aqui dentro agora se expressa
A tristeza não tem fim
Ela é como uma onda que
vem
e
vai.


- Uma mulher machucada em várias partes do seu corpo decide-se por correr atrás de sua felicidade. Pinta a boca, põe um belo e bom vestido que esconda as suas manchas e sai por aí.
Em um desses dias o olhar dela encontra o olhar de um homem que na rua passa. O seu amor parece ser promessa quando suas mãos passam pelo teu corpo e os olhos continuam abertos, se olhando. No beijo mais pleno, no momento em que sua cabeça não conseguia sequer saber o que é tristeza, numa espécie de embriaguez que alegra, o homem misterioso e sedutor arranca o vestido da mulher em um golpe só, e revela-se cruel por ter o hábito de apaixonar as moças e ir embora por nunca mais voltar. Suas feridas sangram, enquanto ele bate a porta fortemente. Seu corpo chora lágrimas rubras, e ela então volta a acreditar: nunca cicatrizará -


11 de agosto de 2011

Prestes a ligar o botão do foda-se

Passaram-se pouco mais de 5 anos e agora chego, então, a alguns centímetros do botão mais esperado: o do foda-se. Falo aqui do meu eu cênico, do meu eu na caixa cênica, no quadrado cênico, e quem sabe também no meu eu da vida, que terá suas atitudes todas refletidas na encenação. Cinco anos fazendo exercícios e mais exercícios, peças acadêmicas atrás de peças acadêmicas... Quantos textos, quantos cadernos, quantos livros começados a ler e deixados na cabeçeira por medo. Por sentir a dor que o bichinho que morde nosso peito provoca. A dor de olhar pra dentro e se reconhecer pequeno a cada passo.
O ator é um ser vaidoso. Aprendi a aceitar que sim, somos todos exibicionistas. E qualquer escorregão, ou até mesmo uma mordidinha que nos faz sair da teoria, praticar e então intrigar-se com o próprio erro, nos fere a alma. Admito então a causa da minha dor desta noite -que não parece nada vaidosa, mas eu encaro a mim mesma e digo: Sim, vaidosa, exibicionista e o pior: ansiosa como o quê. A minha dor tem nascimento na vontade, no amor ao teatro, no amor a arte, na admiração dos grandes, e na pressa.
Essa que não nos deixa sermos perfeitos, que não nos deixa exercitar, experimentar, aceitar o tropeço...
Cinco anos não são nada, se não o início de uma preparação do terreno. Que agora está ainda sendo preparado, para - não sei em quanto tempo - começar a plantação. Fazer o quê? Se tantas vezes agradeci aos Céus por escolher uma profissão que não me exigisse estudo para o vestibular, que agora eu acorde e veja que o ator nunca para. Eu sempre disse isso mas hoje sei que ele nunca para não só por sede, e necessidade de aprimoramento. Mas também por nunca se sentir apto em si mesmo. Por ter sede de reconhecimento, além de conhecimento, e por isso mesmo nunca se sentir completamente farto. Farto dos aplausos. Nós queremos sempre mais!
Se não, óh meu Deus, seremos sempre tão pequenos!
Até parece que não sabemos que nós temos que nos focar no nosso futuro mais próximo, e ele não passa de uma concentração. De firmeza, dedicação. E de valorizar os momentos da vida como instrumento.
Teatro é poesia, é arte puríssima. E a gente costuma colocá-la sempre na parte emocional da gente. Tirá-la de lá, isto é, colocar a fantasia fora da fantasia pode ser dificil pra muita gente. Inclusive pra mim, que tenho me reconhecido um tanto Amélie Poulain, vivendo somente aqui, e não fora.
Coragem é o que me falta, de aceitar desafios, olhar para o meu erro, levantar a bandeira dele e com isso mostrar um grande acerto.
Deixar de ser covarde e me mostrar ridícula em cena - ao ponto de me travestir de outra pessoa, e emocionar a todos.
É uma linha tênue que divide o absurdo, o impróprio e o bizarro do mágico, provocante e encantador. Essa linha se chama eu. Eu interior que morre de medo! Que morre de vaidade, isso sim, correndo o risco de encantar e logo depois decepcionar por querer além da mão o braço, as pernas, o corpo todo.

Voltando ao título que dei ao meu pensamento posto aqui em palavras, me vejo apenas hoje perto do botão do foda-se, que se resume em algo que vai me livrar, ou apenas impulsionar, a esquecer toda essa vaidade boba, de ter coragem, de sair da fantasia com a outra fantasia nos braços e nunca mais largar, por mais que esteja no mundo de verdade. Que eu carregue para todo lugar a minha caixa cênica e nunca mais a abandone. Que eu diga a que vim de peito aberto pro mundo, que eu semeie a magia, a alegria, a paz e todos os outros mundos que possam despertar sementes em outras pessoas.

Eu quero dizer a que vim
Eu vim para atuar
E assim, dizer.


10 de agosto de 2011

Sobre seus olhos

E como não saber que o que me dói não é a pele não tocada, e sim a pele não visitada pelo sangue latente da paixão, por dentro. São os olhos que me fazem ter o fascínio de viver. Olhos que olho, olho que os olho.
Acabo então por me apaixonar - mais uma vez, não só pelos seus, cor de mel, mas também pela escrita da palavra: o-lhos. Parece palavra estrangeira. Tudo o que é estranho me instiga. Sempre quero adentrar os universos paralelos que circundam o meu.
Como o seu, de porta caramelada, redonda, surrealista. De frente pra esse mundo as palavras soam, sussuram, e o mundo faz silêncio.


7 de agosto de 2011

Pra dentro

Desligou o telefone com o fôlego por acabar. A boca amargava, e esse amargo doía as costas. O coração parecia estar tão pra dentro que nela encostava, e ele batia como se reprimisse a si mesmo: estava cansado de só bater mais forte nos sonhos, e já não aguentava mais se sentir vivo apenas quando o corpo se fingia de morto.
Nunca havia saído de casa, e já tinha trauma da rua.

(falta de paixão, covardia e preguiça do mundo. decepção, desilusão. boca tampada com a mão.)