24 de novembro de 2009

"Uso e recomendo!"




Stela conquistou prêmios literários importantes como João-de-Barro, o Bienal Nestlé/categoria infanto-juvenil, o Jabuti e o Altamente Recomendável Para Jovens da FNLIJ. Stela já publicou 25 livros, dentre eles: O último dia de brincar, Alegria pura, Sem medo de amar, O espelho da alma, Pétala de fúria no vento da rosa, Amor é fogo e O seco e o amoroso."

Li o livro "Esses livros dentro da gente" no ano passado, em menos de uma hora. Ele é, de fato, um livro pequeno, de 58 páginas muito gostosas de ler. Está presente na minha cabeceira todos os dias, e serve como uma bíblia para mim. Tão simples e tão profundo!

O livro é destinado para todo e qualquer jovem escritor, não restringindo-se apenas ao público infanto-juvenil.

Uso muito e recomendo à todos que querem aprimorar a sua escrita a partir do desenvolvimento interior!

Um trecho:

"Tem que tomar chá com Cecília e Clarice.
De preferência, numa tarde de sábado. Por modo de que na viagem do coração o sonho é sempre selvagem.
Mas assunte: é preciso convidar também
Machado de Assis, Carlos Drummond, Manuel Bandeira, Guimarães Rosa,
Henriqueta Lisboa, Fernando Pessoa, Érico Veríssimo, João Cabral, Shakespeare,
Cervantes e Vínicius, porque hoje é sábado."


E mais: www.stellamarisrezende.com.br

TWITTER: /stellamr

Caminho Trilhado

Entre tantos pensamentos truncados
Entre tantos esbarrões no corredor da minha alma
Entre os obstáculos e pedras do caminho ao meu jardim
Há uma rosa vermelha que persiste em viver
Ela vive, florindo e intensificando tudo ao seu redor
Ouço a voz do seu cantar, que me chama
E é o meu desejo de manter-me ouvinte que me faz continuar
Ele é imensurável e indefinível, na língua dos homens e dos anjos
Quero sentir seu cheiro como se ele fosse o oxigênio dos meus pulmões
Quero sentir a rosa vermelha como parte de mim
Para calar meu pranto e derramar meu desejo
Parece-me, rosa, que você é o alvo principal do meu caminho perdido
Que você é o ponto de chegada depois da Caminhada dolorosa
Meu caminho trilha até você
Ele percorre tuas raízes, provando a sua beleza mais pura
E, no seu caule, morre feliz
Morre de amar
Morre de querer esse momento em que eu e você somos como a Luz
Uma Luz pequena e brilhante, guardando um grande amor, em direção ao céu.

15 de novembro de 2009

Aurora da minha vida.

Meu pranto, hoje, se dá pelo passado.
Um passado bem vivido, um passado nem tão distante...
Meu pranto se dá pela vontade de me tornar a ser inocente.
Pela minha vontade de ver o mundo com olhos de luar, mais uma vez.
Gostaria de ter aquela vontade de viver sem sofrer.
Vontade de viver, vivendo.
Tenho saudade das músicas, dos momentos em frente ao computador
Tenho saudade de hábitos, de pequenos e meros gestos de carinho
De tardes felizes com amigos que “se foram” de mim... – na verdade não sei bem se eles se foram de mim, ou se eu me fui de mim, e, dessa forma, também me fui deles.
Lembro-me muito bem, com um largo sorriso no rosto e um grande aperto no peito, dos dias na fazenda...
Dos feriados e finais de semana na casa aonde as noites de truco eram longas, aonde, nos quartos, eu me juntava com minhas amigas para contar histórias de terror... Para ouvir funk, Pussycatdolls,Bob Marley e todas as músicas que se passavam na rádio na época. Nesses quartos... Nesses quartos já aconteceu tanta coisa! Melhor ainda é saber que “tanta coisa” não se passa de momentos que marcaram sem querer marcar... Que marcaram sem eu pensar que iriam marcar.
Camas quebradas, briguinhas passageiras, confissões, risadas, muitas risadas...
Saudade de deitar na rede e pedir para a amiga empurrar... De me fechar lá dentro e pedir pra alguém rodar.
Saudade dos filmes em dia de chuva... Também dos banhos de sol na piscina com vista pro pomar.
Saudade de lavar a piscina e fazer coisas que ninguém sabe, só a gente.
Saudade das noites em que eu ouvia meu irmão e seus amigos. Eu queria muito fazer parte daquilo tudo. Encantavam-me as músicas desconhecidas, as músicas sem rótulo... Ali eu podia gostar do sertanejo brega. Do rock’n’roll pesado.
Fazia-me um bem danado sair do meu mundo...
Meu mundo que na época também era uma delícia.
Tão gostoso, que não me lembro de um momento de tristeza... Lembro, somente, das manhãs felizes, mesmo em estar no colégio. Das manhãs em que nós íamos lá pro fundo da sala, colocávamos o mp3 no ouvido e falávamos sobre sexo.
Era o nosso assunto preferido... Talvez por não sabermos nada dele.
Eu queria colocar meus piercings de novo. Prometi e o fiz em uma tarde qualquer.
Não queria menstruar e reclamava até quando falavam que tava perto. Num dia mais inesperado, veio.
Que saudade da manhã seguinte, aonde eu chorava pras minhas amigas, que riam da minha cara: “Virou mocinha, virou mocinha”...
Que saudade da minha inocente vingança: “Yumi, você também vai menstruar. E vai ser hoje!”
Não é que foi?
Que saudade de ser expulsa de sala por escrever um bilhete: “Pri, não acredito! Hoje vou ter minha primeira consulta com o ginecologista!”
Eu tenho saudade da minha primeira aula de português do ano de dois mil e seis. Da professora chata, mal encarada que nos fez ouvir O Rappa e interpretá-lo... Dessa, que se fez tão importante e amada nos meus dias atuais.
Por ela eu fazia tudo, eu me empolgava, ficava tremendo, ficava vermelha. Dava o chute de que ela se relacionava com o professor de história e me sentia ao ouvir qualquer confirmação.
Que saudade.

Que saudade de ser a “Babi_Zuda” amiga da “Mica_Zuda”... Que saudade de nós duas. Que saudade da coleção de pulseiras.
Dos cadernos de perguntas, cheios de adesivos... Aonde escrevíamos tudo que nos agitava: As músicas preferidas, os atores preferidos (José Mayer e Christiane Torloni estavam sempre em primeiros lugares), as novelas preferidas...
Saudade de uma certa mineira que veio cair em Brasília, uma certa mineira que eu fiz questão de ser amiga, e assim fui.
Saudade das noites que gastávamos em festinhas debaixo de blocos. Afinal só nessas podíamos ir.
Acabava às 24h. E daí? Nós íamos uma pra casa da outra, entravamos no computador, ouvíamos músicas, comíamos sucrilhos com leite quente, líamos nossas agendas e deixávamos recadinhos.
Falávamos mal uma da outra comendo balinha... (É bom saber que só você entende essa parte quando a lê.)
Nesse meio tempo em que tudo acontecia e desacontecia, eu estava no teatro. Tinha acabado de entrar e me orgulhava de ter essa oportunidade.
Nele eu conheci a maioria das pessoas que hoje fazem parte da minha vida de uma forma intensa.
Que saudade do “primeiro encontro”, da primeira improvisação, da primeira diretora, do primeiro esporro... Da aproximação do trio que na época era fatal: Alice, Bárbara e Juliana. Três meninas inocentes que gostavam de se sentir atrizes, mesmo atuando há pouco.
Três meninas tão cheias de vida, sem precisar dar nem vender a ninguém. Que saudade da primeira peça. Da insistência.
Que saudade do CCBB e do Cauã Reymond barbudo. Saudade desse dia, em que sentamos num banco de mármore e prometemos uma a outra que lutaríamos juntas! Sempre juntas, sem abandono nem traição. Sem desistir ou hesitar! Saudade da empolgação em subir no palco. Em conseguir entrar no camarim.
Em conversar com o Cauã achando ele o cara mais foda de todo mundo!
Saudade da inocência que, sem sabermos, tinha prazo de validade.
Saudade de não concordar com os mais velhos ao ouvir “Quando você crescer vai entender”, “É porque você é muito nova”...
Saudade de nem pensar em relacionamentos amorosos. De ter apenas uma curiosidade e depois esnobá-la. “Pra quê? Tenho tantos amigos. Tenho a minha mãe também. Ela é minha melhor amiga!”
Saudade de assistir “Vídeo Show”, “Vale a pena ver de novo” e “Malhação” todas as tardes.
Saudades de assistir “A viagem” e ver a minha filosofia de vida desabrochar. De chorar ao ver espiritualidade. De chorar ao ouvir “Crazy” na voz do Julio Iglesias.
Do dia em que cliquei em uma comunidade “Torloni 4ever” e descobrir que não era apenas comunidade, e sim uma casa de muitas pessoas. De certas pessoas que tinham algo em comum comigo: Elas viviam o que eu gostaria de viver no meu futuro. Elas viviam o que eu ia viver. E iam me esperar para que eu pudesse viver junto delas.
Saudade da noite em que uma garota de Miami me adicionou no MSN pra me apresentar pra “Geral” e falar sobre Christiane Torloni, a tal protagonista da novela que eu via reprisar todas as tardes. Pra mim parecia estranho, mas ta... Tinha me instigado aquele mundo. Tinha me despertado curiosidade e vontade de participar. Ver a menina negra de trancinhas no cabelo me despertou amor. Amor sem explicação. E eu não estava interessada em saber de onde vinha. Eu simplesmente gostava, eu simplesmente admirava. “Quem diria que viver daria nisso?” É o que eu digo hoje. E por isso, tenho saudade.
Saudade do medo de digitar besteira, das observações escondidas para me comportar igualmente.
Saudade da curiosidade pela música popular brasileira, pelos infinitos cliques em tudo que tinha a ver com Chico Buarque, samba e Rio de Janeiro.
Saudade de ouvir toda a trilha sonora de “Páginas da vida” e descobrir em Manoel Carlos como meu autor de telenovelas preferido.
Saudade desse mundo que se resumia em tanta coisa. Saudade de mim, saudade da menina dos cabelos compridos e cacheados, quase louros.
Saudade dos dentes ainda não consertados, da sobrancelha ainda não feita, das unhas pintadas de rosa - claro. Saudade das saias compridas e hippies, dos dreads no cabelo, dos anéis de coco e em seguida as unhas pintadas de roxo, de preto.
Saudade da não necessidade de usar sutiã, saudade até de ir na Sub17 da Macadâmia, da Fashion, da Platz, de calça da “gang”. Ah eu nem sabia desses estereótipos que hoje eu faço e critico.
Eu tenho saudade de tardes na 105, bloco “A”.
Do parquinho, dos apartamentos limpos e cheirosos das amigas queridas.
Saudade da vontade de conhecer novas pessoas. De me empolgar e colocar tudo no meu fotolog. Do meu jeito.
Saudade.
Saudade da Izabella, da Júlia, da Letícia, Renata, Ighor, Yumi, Priscylla, Daniela, Patrícia, Amanda, Andréa, Eduardo, Luis Felipe, Melissa, Lucas, Leonardo, Luciene, Rodrigo, Neila, Verônica, Karina, Cecy, Lorenna, Geovanna...

Vontade de não saber agregar minhas idéias, de digitar tudo errado, achar bonito e postar em todo lugar.
Eu tenho saudade de não sentir dor, de não chorar toda semana...
Saudade de não amar intensamente, saudade de não esconder, saudade de não conter, de não ofender, de ser perdoada, de não me apaixonar, de não ouvir música pelo que ela vai me lembrar e sim pelo que vai me despertar.
Saudade, sentimento tão presente na minha vida.
Saudade da saudade que não era de você, que não era do Rio de Janeiro, que não era de nada! Era saudade de vontade.
Vontade de estar aqui...
Boba da pequena Bárbara!




"Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d’amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!"

9 de novembro de 2009

Rio que te quero, Rio.

É bom andar ao som do mar
Sentir os grãos de areia esfoliando os pés
Sentir-se melhor, sentir-se livre
Sentir-se, simplesmente.
Não soluciona
Não modifica
Mas consola, purifica
Traz a pulsação necessária
Traz a força
Ver a paisagem que Deus nos deu e faz parte
Ver gente
Sorrir, cantar, abrir o braço e sentir a maresia
Ver o sol beijar o mar como todas as canções
De preferência no Arpoador
Sair de lá e tomar banho fresco
Roupa fresca no Rio
Pegando ônibus pra Lapa
Depois, pro Baixo
Amanhecer junto do sol
Trabalhar na esperança
Trabalhar em casa, trabalhar atuando
Vivendo o teatro da vida
O teatro que vive no palco do amor.