26 de julho de 2010

Vou cuidar dos seus olhos para que me veja.

Olá, Papai.

Posso me sentar aqui só um pouquinho?
Tive um dia cheio... O seu também não deve ter sido diferente.
Estudei, como sempre. Fui às aulas na academia e fiz análise.
Mas o que eu quero te dizer, papai... É que...
Assim, as aulas de hidroterapia são muito relaxantes. Tem sido ótimo pra minha coluna.
A escola tem me estressado cada vez mais. O professor de física me lembra tanto você. Mas ele é um pouco chato.
E na verdade análise nem é tão bom quando eu pensava ser.

Pai, desculpa. Não vim aqui pra te dizer essas coisas.
Apesar de que seria bom que tivéssemos essa conversa todos os dias, né?
Confesso que tenho curiosidade para saber como foi o seu dia de trabalho. Eu já sei que você passa o dia ao telefone, que você às vezes grita e que fica com fome no meio da tarde. Sei que você sempre chega cansado, noite trás noite.
Nada mais.
Eu quero te dizer que você tem razão quando diz que eu eu sou uma filha "ausente", e que não ligo para os seus problemas. Talvez você veja as coisas por um lado piorado, até porque não é que eu não ligue ou não me preocupe com você... É impensado. A sua vida sempre foi distante da minha e se é pra te falar a verdade, só vim a questionar seus sentimentos há uns anos.
Você também tem razão quando diz que eu vivo no meu mundo. Em um mundo que talvez você não faça parte, nem a mamãe, nem os meus irmãos. Mas também não é por querer.
Você sabe... Quer dizer, você não sabe... Mas tudo isso tem razão. Talvez um porquê. Só não vou lhe dizer agora, papai...
Mas te prometo uma coisa: -uma não, muitas delas:
Eu sou a filha que você sempre sonhou ter.
Tudo bem, posso ainda não ser. Mas em mim está plantada uma semente sua...
Você não vê?
Eu te prometo passar na melhor universidade. Eu te prometo ganhar meu dinheiro e depender só um pouquinho de você. Eu prometo fazer caridade todo dia... Toda semana. Prometo falar mais baixo, cheirar alfazema e frequentar lares espíritas nem que seja em dias alternados. Prometo ser uma atriz que te encha de lágrimas os olhos em pelo menos um dos milhares de espetáculos que pretendo estar. Prometo sermos tão felizes... E não sentirei mais a sua falta quando ver a poltrona vazia. Pois saberei que alguma reunião te surpreendeu e que você está com a cabeça em mim, me desejando "merda".
Prometo, papai, não me meter com drogas e não beber além da conta. Prometo não fumar.
Sabe aqueles livros que você sempre diz que gostaria que eu lesse? Eu os lerei, e com certeza, escreverei alguns à altura. Serei uma escritora cheia de vocábulario.
Vou dominar a geografia que tanto me domina atualmente. Vou me acostumar a ler o jornal todos os dias para ver o que se passa no mundo.
Eu já começei a comer mais frutas. Quase todo dia eu como uma maçã, tomo um copo do suco de laranja que você faz tão cuidadosamente e encho o prato de salada como entrada no almoço. Mas não sei se você cuidou de olhar. Mas não tem problema: eu prometo aumentar a frequencia das refeições saudáveis e prometo que você vai ver.

Não, Papai. Não precisa chorar.



Na verdade, pára de chorar, por favor?



Eu nunca soube que seus olhos derramavam lágrimas.



Pai, eu sei que te confundo a cabeça. Eu sei de tudo. Mas não sei de nada.
Não sei falar-lhe e não sei demonstrar.
Me calei por tanto tempo e hoje...
Hoje eu quero lhe pedir perdão.
Perdão por ter me magoado com as suas palavras que machucam tanto, e assim levantar o nariz que você tanto calcitra, e assim alterar o tom de voz, e assim chorar, e assim me desesperar.
Perdão por não fazer o senhor se interessar pela minha vida.
Perdão por não te mostrar em meu olhar mais esperança e comprometimento com a vida.
Se pudesse, daria meus olhos para que tomasse conta, que nem naquela música do Chico que tanto já cantarolamos.
Perdão por não apagar as luzes e quebrar tantos copos, perder tantos celulares.
Perdão pelas vezes que me ouviu falando palavrão. Perdão por não aguentar que me chames de...
Perdão.

Não quero te magoar. Nem fazer vir à tona lembranças que te machuquem.
A gente sabe também que existem outras que graças a Deus a gente não lembra, pra não se odiar.

Quero te pedir perdão e colocar em você metade dessa semente sua que há em mim.
Quero dizer a que vim:

Vim para dizer que te amo.


Boa noite.

20 de julho de 2010

Beija-flor.

A vida continua seguindo o seu rumo e assim cursando o meu percurso.

A mim muito importa o amor.

Ele é a rosa amarela que segue florindo os meus passos.

É a esperança que aflora nesses mesmos secos e cansados.

Quero ser calmaria para os afoitos e ventania para os esquecidos.

Mesmo sozinha, sou feliz aqui.

O empenho me impulsiona.

Cada passo é uma vitória que me instiga a chegada: a partida aprimorada.

Não vou ser ninguém que já não me caiba ser.

Nem vou habitar mundos que não imagino.

E assim continuo a caminhar.

Com beijos em flores.

Em flores que beijam

Como a rosa amarela.

14 de julho de 2010

Queria ser-te



Pássaro leve.
Livre gaivota.
Tranquila borboleta.
Solto beija-flor
Que a flor beija.
Que a flor beija...

5 de julho de 2010

3 de julho de 2010



"Não, nao fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião
O seu bicho preferido
Vem, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido

Agora era fatal que o faz de conta terminasse assim
Pra lá desse quintal era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
'O que é que a vida vai fazer de mim?' "


"Um dia, ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz"



"Quando ela chora não sei se é dos olhos pra fora
Não sei do que ri
Eu não sei se ela agora está fora de si
Com seu estilo de uma grande dama
Quando me encara e desata os cabelos
Não sei se ela está mesmo aqui
Quando se joga na minha cama
Ela faz cinema, ela faz cinema
Ela é a tal
Sei que ela pode ser mil
Mas não existe outra igual
Quando ela mente não sei se ela deveras sente o que mente pra mim
Serei eu meramente mais um personagem efêmero da sua trama
Quando vestida de preto, dá-me um beijo seco, prevejo meu fim
E a cada vez que o perdão me clama...
Ela faz cinema, ela faz cinema
Ela é demais
Talvez nem me queira bem
Porém faz um bem que ninguém me faz
Eu não sei se ela sabe o que fez quando fez o meu peito cantar outra vez
Quando ela jura não sei porque, Deus, ela jura que tem coração
E quando o meu coração se inflama
Ela faz cinema, ela faz cinema
Ela é assim
Nunca será de ninguém
Porém eu não sei viver bem e fim."