27 de julho de 2013

Diz-se das coisas belas por aí
Das coisas que passam e ficam,
De alguma maneira.

Diz-se do gosto do café,
Do olhar que mareja,
Da mão que esquenta.

Diz-se, por aí, das coisas
Aparentemente frágeis
Das coisas simples
Da flor e do vento
Da leveza de dentro.

Eu estou procurando
No que se diz
- e entre as minhas linhas -
Algo que sustente
Algo que supere
O que vivemos.

Acho que procuro,
Em alguns momentos,
Algo que alimente
O que
Verdadeiramente
Acho que sou.

Eu estou tentando
Esquecer a ideia
De que preciso de você
Para sorrir sincero.

Ontem eu tentei
E beijei algumas bocas
E sorri para alguma
Coisa
Que não sei o que.

Foram só bocas
Que eu beijei
E, na hora,
Eu pensei
O que faço eu tentando
Me convencer
Que não devo
Cortejar a vida
Para beijar o mundo
(A vida é o beijo do mundo!).

E você me beija profundo
Sem saber
Você me beija o mundo.

Quer saber:
Talvez seja disso
Que se diz
Por aí.
Vou começar a te dizer mais uma vez. Que é isso que sei fazer. Vou me colocar em palavras dessas que sempre uso, te enfiar em algumas linhas, já que não posso te beijar de palavras as linhas do corpo. Eu queria saber porque é que insisto - em te querer e em te esquecer. É isso, insisto em ideias contrárias e acabo por não entender mais nada. E a saudade é isso mesmo - um não saber se o que se foi volta, ou pode-se chamar de esperança tola o que sinto quando espero um sinal seu. Preciso saber, de uma vez por todas, com qual insistência fico. E estou colocando a decisão nas tuas mãos, burro que sou. Você é o silêncio das minhas horas e só. Resolveu se calar e deve ser porque me viu te olhar muito fundo. Não consigo te olhar raso. Ontem, enquanto eu beijava não sei quem, pensei em você, lá no fundo. Também te penso fundo, e bem firme, nem sei se você sente. Isso me atormenta - não saber nada. O nada sabe mais sobre mim do que eu mesmo. É por isso que te escrevo sem parar, pra ver se entendo um pouco do que nunca vai se explicar. Eu te agradeceria, se pudesse, gosto do que suas palavras escrevem, é até bonito o que resulta dessa loucura toda. Mas ficaria meio piegas eu te falar de inspiração enquanto você nem consegue me olhar. Será que eu estou ficando louco ou aquele dia você me olhou diferente depois de me abraçar? Um dia eu te disse que você me sonha dentro e você riu, disse que tinha sonhado comigo, mas não lembrava o que. Você me sonha dentro o que for, simplesmente me sonha. O meu fraco é gostar de sonhar. É gostar de te amar, mesmo sem poder falar. Eu gostaria ainda mais se te pudesse viver um pouco. Se te pudesse acompanhar as horas, ver o tempo desfilar. Sabe, nessa vontade de te beijar eu descobri que a vida é o beijo do mundo, e que maluquice, o que eu faço tentando me convencer que não devo cortejar a vida pra beijar o mundo, o que faço eu tentando te esquecer, que insistência tola essa de te querer.

16 de julho de 2013

um beijo, não me liga por enquanto, tchau

eu fico falando falando falando. me expondo, preenchendo. eu nem sempre fui assim, se interessa saber. talvez eu esteja querendo chamar atenção, mas acho muito provável que eu esteja tentando me entender de um jeito obsessivo. como se diz mesmo eu te amo? como é que eu faço pra que a delicadeza não desapareça, como a gente faz para que a existência seja quase uma surpresa? eu estou ficando com medo de virar um autômato, estou com medo de ser mera reprodutora, estou com medo de parecer mecânica, e ser títere. aí eu expresso expresso expresso e que medo de virar uma máquina que expressa sem parar nem diferenciar nada. ai, amor, eu já nem sei mais do que falo. talvez eu precise de um tempo comigo, e que nem as palavras venham me visitar. tenho esquecido do silêncio, não descansado as mãos. tenho me cansado enquanto durmo, acordado com dor. fico pensando pensando pensando e o pensamento não pode ser uma produção em série, pelo amor de Deus. sabe o que eu acho, amor? que eu preciso esquecer um pouco dos seus olhos. ficar comigo pra esquecer de mim. olhar pros olhos do mundo, assim, face a face. depois, eu preciso dar umas voltas pelas esquinas da minha vida. preciso desfocar pra depois focar melhor.
eu já volto, amor, eu já volto.
mas agora vou viajar aqui pra dentro...
vou dar uma volta ali fora.

- só te peço que não vá embora
me espera um pouquinho
que chego pronta pra te amar -

alegria quando vira euforia pede pausa

o que seria, então,
a tristeza
se não
um pedido
o que seria então a tristeza
se não um
espaço
entre o início e o fim
o que seria a tristeza
se não um descanso
entre uma alegria
e outra
o que seria da alegria
se não houvesse tristeza?



eu só queria um instantinho de paz
um pouco de silêncio aqui dentro
um pouco mais de amor ali fora

sei lá,
eu só queria estar só
e esquecer pó
do que já foi

eu só queria
um
pouco
de paz
aqui dentro do meu coração.

uma pausa:
é isso.

eu só queria uma pausa
pro meu coração.

eu tinha que estar fazendo prova

[ando
escrevendo
entre ais
por clamar:
que eu atraque
no seu cais]

[ando esperando 
o tempo
em que
vivendo
estarei sendo
somente
eu
e nada mais]

pronto



a dor da manhã nasce antes de acordar

tomei aquela cerveja ontem. aquela que te disse. e daí, acordei com saudade e meu peito doeu. acordei com uma saudade de algo que não foi, e todo esse blablabla. acordei com a saudade da semana que vem, porque te vi ontem, mas não amanhã não vou te ver hoje, e o tempo já me confunde as memórias, e, cacete, você já é uma memória e eu nem vi o tempo passar. o passado é mesmo esse saco fundo e breu que ninguém consegue conter - ele vai sugando as coisas de segundo em segundo, e você já tá lá. tudo vai para o breu do saco do passado. mas tem coisa que se multiplica, vai pro saco e se renova, e existe outra vez, e vai, e aparece, e vai pro saco, e surpreende, e vive de novo, e continua a inflar, a desabrochar, a acordar, e eu queria acordar olhando pro seu rosto. eu adoro a cara de sono, a cara limpa da vida. mas hoje eu acordei com dor no peito, porque te vi passar no meu sonho e já eram oito e meia quando olhei pro relógio.

11 de julho de 2013

Que eu sempre me perca em tamanha sede

"Toda mulher é um abismo de prazeres que rolamos sem tocarmos o fundo"
Balzac

E você sabe muito bem que no seu abismo eu me deixei despencar, e me perdi entre as montanhas e noites do seu corpo. O teu fundo eu desconheço, e é o desconhecido que me faz tanto te percorrer, e tanto te querer, e tanto me perder, me perder... A poesia não sai da minha boca, ela só fica falando que te quer beijar, que te quer encontrar - pra enfim te poder falar. A minha boca não quer só te falar, ela até cansou disso, ela quer te beijar, e os teus beijos deveriam aqui estar, a me encostar a barba, a me fazer arrepiar.
A taça está aqui, envolvendo o vinho encorpado que você tanto gosta. O vinho encorpado que eu tanto gosto. O tinto vinho que no seu corpo eu tanto gosto. 
Enfim, quero percorrer suas linhas como quem anda sedento pelo deserto - que nunca me faltem os seus sais, e que nunca me acabe a sede das tuas águas.

Somos estanques

O mundo é sempre estanque. O amor e a felicidade são invenções do mundo moderno - são realidades inventadas. Mas também inventamos de estancar. É quase como uma necessidade. Negamos bombons, negamos fraquezas, puxamos de cá, ajeitamos de lá. Medimos palavras, controlamos risadas, colocamos a mão no bolso e, quando tudo isso nos cansa, choramos à noite. Mas choramos baixinho, abafamos - o que não se abafa - no travesseiro. Estancamos até a intuição - que nos diz que nenhum sentimento estancado para de sangrar - e insistimos em acreditar que tudo passa, que o mundo vai bem e que as coisas realmente funcionam.
O mundo nos estanca, o mundo não vai bem. E ainda assim precisamos nos fazer menos cegos, mandar fabricar novas lentes, aceitar a miopia e conviver com o daltonismo. Precisamos saber das palavras, entender as opiniões, e eu tenho vontade de te amar no meio disso tudo. Não quero só te abrir a camisa, quero te abrir os olhos e quero que você me faça sentir mais. Às vezes pode acontecer de eu querer me esconder debaixo dessa sua saia, ou dos caracóis dos seus cabelos, mas prometo não ter pressa nem medo no movimento preciso que abre nossas asas.
Me dá a mão, e tentemos não nos estancar, tentemos deixar que os nossos rios corram, deixemos que eles se encontrem. O amor é tudo aquilo que liberta, o amor é tudo aquilo que justifica. E no meio do caos a gente encontra uma corda, e a gente não se pendura, a gente sobe, sobe, sobe, e sai do fim do poço - o amor é tudo o que eleva, tirei a sua roupa, vamos deixar jorrar, o amor é tudo aquilo que liberta, tirei minha atadura, já deixei você entrar.


9 de julho de 2013

Amo livrarias

E hoje o vendedor da loja, ao me entregar o Balzac na sacola, me disse "bom apetite".

8 de julho de 2013

É tudo verdade,

Eu também nunca quis que ela fosse um títere meu. Mas quanto mais ela se entristecia, quanto mais ela reclamava, mais eu me sentia culpado. Nós não pedíamos atitude alguma um para o outro - pelo menos não diretamente -, mas as nossas atitudes, por si só, me subjugaram. Eu fui títere do nosso semblante fechado, eu fui títere do nosso silêncio.
Acontece que eu fui me deixando ir - e é quase certo que aí eu tenha começado a ser fantoche -, desde o início eu nem mesmo sabia o que estava começando. Eu ia ao seu encontro como quem simplesmente segue o rumo da correnteza. Não havia esforço nem vontade, simplesmente havia. E eu achei que sempre seria assim, bobo eu, que dali a dias estava já roendo as unhas até o celular tocar. Antes era eu quem adiava, fazia ela esperar um pouco, e só depois me deixava ser amado. Mas depois, ser amado não era só algo para se deixar, era algo pra se depender - e eu já achava que isso poderia ser amor, e eu já achava que isso era também amar.
"Baby", eu dizia, "eu só sei te amar pulsando. Ainda assim você vai ficar?". E passei a depender dela para acreditar que eu realmente existia, para acreditar que alguém se importava comigo. Eu precisava dela pra esquecer um pouco do mundo. Nossas válvulas aproveitavam para serem abertas enquanto estávamos juntos - o peso do mundo era todo descarregado já na porta de casa. Descarregávamos todo tipo de peso - desaforos que estavam no bolso, nós cegos da garganta, nervos, baixas autoestimas, confusões mentais e tensões cotidianas. E disso fomos dependentes.
Mas não cobrávamos nada um do outro - e isto era não só uma condição, mas um acordo.
Até que o acordo não fazia mais sentido. Eu não sabia como tinha ido parar ali e já não aguentava mais ignorar verdades e criar mentiras. Eu já não sabia se o amor era um conhecido meu. Não lembrava de ter me apaixonado.
A verdade é que eu deixei que a vida fosse tecendo o meu caminhar. E as coisas nunca acontecem apenas em um plano. A vida foi tecendo o meu caminhar, e eu fui deixando, e nós acabamos por nos meter a tecer o caminhar um do outro. Fomos todos títeres.
É muito difícil não se deixar levar no mundo em que vivo.
Fala-se muito de intensidade, felicidade, expressão e amor - mas ninguém sabe exatamente o que fazer com tudo isso. Ninguém sabe por as coisas do coração no coração, as coisas vão se confundindo, se esvaindo, e ninguém sabe mais, ao certo, medir a expressão.
Mesmo sem saber, eu falei que não dava mais, dei um beijo em sua testa e saí pela porta da cozinha. Fugir das contradições da vida foi a minha maior covardia, e disso eu sei.
Nada é verdade-ponto.
Tudo é verdade-vírgula.

7 de julho de 2013

Brasília, Rio, Brasília, Rio, Brasília, Rio

Se Brasília fosse uma mulher, ela seria virginiana - planejada, meticulosa, calculada. Para percorrer a trajetória do seu corpo, basta entender a sua matemática. Brasília é coisa única. Brasília é quebra, é coisa nova, pra frente, é, até mesmo, de vanguarda. Acho que Brasília tem ascendente em aquário. Ah, e não se esqueça: para apreciá-la, deve-se aceitar, de uma vez por todas, suas singulares condições e particularidades.
O Rio, o Rio poderia ser um escorpiano com ascendente em leão. Chinelo nos pés e dragão tatuado no braço. Curvas irresistíveis, energia envolvente, charme certeiro.
Se quer calmaria, venha para Brasília. Leia um livro nas entrequadras - aproveite o cenário bucólico para se sentir em paz. Algumas cigarras podem aparecer e te incomodar, mas a mim agradam. Eu gosto principalmente de sentir o cheiro de terra molhada ao som das cigarras. Vai entender. Se quer gente diferente de tudo o que viu, se quer rock e arte da boa, venha para Brasília. Aqui costumam dizer que a arte não vinga, mas para mim o contrário acontece. Entre a arte do Rio e a arte de Brasília, fico com a de Brasília. Aqui as coisas vingam sim, elas são ainda mais fortes por ter de sobreviver num solo tão seco - mas ainda assim fértil.

O Rio é a cidade dos meus sonhos. Quando estou lá, sinto que estou num universo aqui de dentro. Eu entro no avião, fecho os olhos, abro, e estou  no mundo que sempre sonhei - e, como é normal dos sonhos, antes mesmo de conhecer.
O Rio me liberta. O Rio é livre. E o Rio faz com que eu me olhe. No Rio eu me encontro, e parece sempre que não me via há décadas, e parece sempre que nunca mais vou deixar de me ver.
Mas aí eu volto.
E eu me esqueço um pouco - acho até que pode ser saudável.
Aí tenho saudade dos meus sonhos, tenho saudade de mim mesma, e quero voltar pro Rio, e adio as passagens, e faço meus trabalhos, e vou às festas no Museu.
Eu acho que estou onde deveria estar. Inclusive quando estou lá - sempre que estou lá, tenho a certeza de existir, a certeza mais profunda de respirar, e a certeza de que vou voltar.
E acho também que não tenho escolha, meu fado vai ser sempre amar esses dois.
Uma mãe, que me acolhe, me firma os pés, e um pai, que me leva pra passear, pra ver o mundo e pra me encontrar comigo mesma.
Brasília e Rio de Janeiro sempre foram muito próximos aqui dentro.

Eu sinto saudades, Rio.

Eu te amo, Brasília.

3 de julho de 2013

Te quero
Porque me quero
Conhecer
E
Não vejo saída
Mais doída
Do que não me deixar
Amar

O que é que guardo nos olhos para te olhar? O que é que guardamos para as horas de amar?
Perguntas sem resposta.
- A mesa está posta.
E eu continuo a caminhar.
O que é que nos une, o que será que me dá, o que é que desabrocha sem eu mesma plantar?
Por que é que te quero, se nem mesmo te amo, e só te quero amar?
Por que é que espero, se nem sei de que esmero estou me metendo a falar?
Não sei dos porquês.
Eles não sabem de mim - não nasci entre um por e entre um que - só de você.
Por você que os porquês continuam a perturbar minha mente.
É a sua incerteza que me insiste a espera.
Sua entrada e saída. Esse mete-não-mete do seu amor em mim.
É certo que você nem mesmo sabe que em mim já adentrou;
Será que eu também não sei que dentro de você estou?
Onde é que você anda enquanto percorre meus pensamentos?
Onde será que eu ando enquanto te escrevo todos esses sentimentos?
- A mesa está posta.
E eu continuo a pensar.

Eu não te amo - só por hoje. Não te amo como quem tenta esquecer uma perda. Como quem tenta parar de fumar. Não te amo como quem espera deixar de amar - e como quem espera o amor entrar. Eu espero um certo desabrochar - e você finge que não há o que esperar.

Ando entre as aspas

agora dei pra citar
nem tenho tentado falar
tanto assim
ou tenho?

agora eu dei pra dizer
o que os outros me dizem
dei pra querer
que o Chico
me diga dos astros
dos signos
do que consta e do que não consta

dei pra ler
como quem pede
que a Clarice explique
o inconstante

dei pra achar
que todos eles
sempre amaram
e dei pra querer
que eles falem
o que é que acharam
dessa imensa

escuridão.