28 de setembro de 2011

Mambembe dos espaços ocultos

Pensando no ser como país
E no outro como estrangeiro

O ser que visita o ser
No teu corpo terá penetrado?

Para ser, define-se o corpo
Ou também a alma não afirma aqui a nossa existência?

A visita que não é conhecida pelo visitado
Invasão então é
E assim clandestinos em corpos e não corpos somos nós?

E isso de ser, como é que se explica?
E quando não se sente fora de outro ser?

Tem gente mambembe -
Sem casa num lugar só

Esses têm casa em corpos
Invadem todos eles

E:
A língua desses tais territórios outros
Não seria prazeroso meio de se entranhar nesses corpos-habitats?
A língua
O meio
O código
De entrada


                                   Um ser
de cá
E outro
                                                        de lá.

Ah, que viagem boa, essa
E que maravilha o esbarrar dos seres
Pelos espaços ocultos
Que circundam a matéria...

27 de setembro de 2011

Amor

Você me cresce
Além de crescer em mim
E em mim agradece
Tendo gratidão, enfim,
Te destino o meu amor -
O meu pudor
Junto dele
As minhas sinceras desculpas
Por ter sentido dor

Obrigada, amor
Amor que me surgiu e me renova de tempos em tempos
Que em minha mão agarra e explica sem palavras
Que consola o meu não-entendimento

Por ser você a razão da minha dúvida
Obrigada por ser a lente
O auxílio mais permanente
Que padece em mim e é, sim, a dor que auxilia a sua própria causa.
A pureza que lava e tira do teu próprio rebento os resquícios impuros

Muito grata
E muito amante tua agora sou
Você é
Esplendor e brilho
E traduz em si o que há de melhor em mim

E assim cada vez mais amo
Com o amor pai
Ainda apaixonado
Mas acima de tudo
Admirado

25 de setembro de 2011

De. Vez. Em. Quando.

Às vezes eu paro
E penso
Em.

Fecho meus olhos
E para os céus lanço meus olhares
Em olhos fechados
Os olhares são lembranças
De.

São formas vindas de momentos
Que me deixaram a vontade
De.

Às vezes eu me permito sentir
Que.
Às vezes eu gosto do sentimento que
Não espera finalidade
Em.

22 de setembro de 2011

Se deitou com a barriga pra cima.
Respirou fundo
E escolheu qual das ilusões ela agora iria viver.

Qual nostalgia escolher para tocar?
Que cheiro sentir para lembrar?

Vejo o passado que passou por mim
Se esfregou em minha cara e foi embora
Ou vejo o futuro que não me aguarda?

Qual dos espinhos vou tentar tirar do lugar
E de qual dos machucados vou arrancar a casca?
Qual é a fissura que passa por cima da razão e me faz levar a mente
Ao futuro que não me aguarda?
Ao passado que se esfregou e não mais.
?

O aqui dentro parece mais um amontoado de cenários
Um acervo de figurinos
Uma biblioteca antiga

Lugares escuros e barulhentos
Vãos
Roupas sujas de sangue
E outras com substância de prazer passado.

É por ali que ela passa.
Toda noite.
Quando os olhos fecha.
Na intenção de tê-los abertos.
Olhando para.



O que as ilusões me trazem

Eu posso até não estar acompanhada
Mas a minha poesia nunca fica só
Se a vida me ganha num momento
Se ela me mostra uma realidade
Ou até uma inspiração
Em forma de gente
Embalo tudo no aqui e levo pra casa

Arranco do peito e ponho no papel
A energia que perpassa o lápis 
Enquanto ele desvirgina o papel
Me consola -
O impossível dentro do impossível me serve de alimento
Escrevo, então
E assim percebo: apenas começo
Não penso
Simplesmente sinto

E o lápis rabisca
É ele que decifra
O que não se pode dizer
Ele faz palavras
Do que o aqui dentro
Cala
E me cala.

Brilha

Brilha
Que teu brilho me cintila
Que sua silhueta me situa
Que a tua mão me guia
Que o teu olhar me adentra
Que teu sorriso me ama
Brilha
Que mais parece uma estrela
O ser humano que aqui agora habita
(E que sempre aqui esteja).

13 de setembro de 2011

Escrita inconclusiva de uma tarde cotitiana de terça-feira.

Estou com vontade de fazer um silêncio muito grande. Quando aqui dentro tem alimento suficiente para saciar a minha fome - que mais parece solidão, fico sem social alguma.

- Mas você gostou, não é, daquele show?
- Uhum.
- Você está chateada?
- Tranquila.
- Fica com essa cara estranha olhando pro lado...
- Não, tô quieta, só.

A verdade é que eu queria que o meu silêncio bastasse não só a mim mas ao mundo. Que nele todos os meus sentimentos pudessem ser transcritos de forma artística. Poética, nem tanto. Mas objetiva, seca e real.
Da realidade e da dignidade no meu sentimento sei eu. Mas colocá-los para fora com a verossimilhança que o silêncio guarda, não consigo. E acho que não hei de conseguir.
Por isso cada vez mais tenho medo de falar. Covardia em escrever e pouca questão de não deixar passar uma inspiração.
Tudo isso é muito proporcional à complexidade do que sinto. A minha inspiração, ao meu ver, nasce em um leito cheio de luz, prazer, imaginação... Mas antes mesmo de fazê-la fato...
Me estanco.
E paro.


[Nenhuma conclusão feita]
[Como no texto,
como em mim]

5 de setembro de 2011

Vim para ser templo.

Me olhei por dentro diversas vezes quando o caminho parou em mim.
Ele que para de me percorrer, para que eu veja os seus obstáculos e respire calma na minha coragem.
Sempre foi um vento leve e com cheiro de alecrim que me beijou a face. Que me abraçou o corpo com quem sente a demora.

Não sei porque tantas vezes eu o esqueci... A gente se burla, não é? A gente se mata, se machuca, se multila, se esquece, se perde...
Concordo que Deus deve nos proteger de nós mesmos.

A verdade é que sempre soube o que me traz a felicidade. A calma, ela vestida de gente, coberta de humildade, cheiro acalentador... E o melhor: nenhum obstáculo.
Como nós somos crueis com nós mesmos. Esquecemos de praticar o que mais nos faz feliz, e o que ninguém pode impedir. Sob o ponto de vista de ideologia, ninguém pode conter o bem. Sua família nunca vai te impedir de ser bom. A humanidade pode até te afrontar com os fatos, com as guerras, com e com o ódio. Mas você nunca será condenado por praticar o bem. Nunca ninguém vai te impedir de dar abraços fraternos, de sorrir sem motivo concreto no nosso mundo, de espalhar energia boa e sair fazendo o bem que nem traquinagem.

Às vezes sou Amélie Poulain mesmo, vivendo só nos meus sonhos, e continuo sendo ela quando sinto vontade de fazer o bem a humanidade como um vício. E que nunca me vejam, simplesmente abram um sorriso.

Confesso que fico abismada com o bem que o bem faz em mim só de pensar nessas coisas, já que nada fiz na vida para concretizar esses pensamentos.
Imagina a reciclagem de sentimentos que a benfeitoria faz em uma pessoa?
Restaura tudo, oxigena, abre, benze, e enfim...
Viramos templos.


Eu quero virar um templo Dele.
Quero dizer a que vim ao mundo
E quem me acompanha

Devo dizer a que vim e o que vim fazer

Quero limpar as mãos com a sujeira do mundo

Escrever no ceu que nos cobre

A frase mais bela:

"Iluminar tudo. Iluminar a todos".

Amém