30 de dezembro de 2011

Sem título sei lá que número.

O que tua falta me penetra.
É o que me questiono, sentado à mesa da varanda. Se importa, é noite fria e silenciosa. É Brasília, mas não é seca. É quase úmida. Numa quase chuva, essas que trazem ventos. Olhando para o céu, preenchido de nuvens, eu tento sentir a inspiração que os grandes poetas, presumo eu, sentem nessas horas solitárias e convidativas à escrita. 
Normalmente se escreve o que se sente. Eu, pelo menos, costumo escrever o que eu sinto. Nem que coloque o sentimento entre várias palavras, momentos e situações que o escondam. O que sinto? Bom, sinto saudades. E só. Ou não seria falta? Eu sinto falta. Sua. Eu. Sinto. A. Sua. Falta. Acho tão bonito isso.
Se falta, é porque já esteve. E normalmente te tenho para poder olhar. Eu te vejo, e te ouço, te vejo passar. E então você para de passar. É isso: você sai, e então me falta. E eu sinto dor. Uma dor forte que parece conseguir te fazer outra aqui dentro. Te enfia aqui e eu nem sei o que sinto: prazer ou angústia?
Até parece uma forma de proteção, uma válvula de escape. Ou melhor: uma forma alternativa de eu ter você. É sim um pouco brega, mas seguindo essa linha de raciocínio eu consigo entender essas frases de efeito que leio por aí: "você é minha droga", "o amor é um vício", etc e tal.
Às vezes me assusto com as coisas que escrevo quanto te penso.

Pausa: acabo por perceber que, sinto tanto a sua falta, e te criei tanto dentro de mim, que direciono a minha escrita à VOCÊ.  Quem? Essa escritura não tem destinatário. Seria tudo isso uma vontade inconsciente de desabafar o que sinto por você em letras? Pois, não, não o farei. O meu amor é segredo, é sagrado, e está sacramentado pela emoção. O meu amor é só meu, e dele só me resulta o que escrevo. O meu sofrimento não tem objetivo, ele não tem solução, e então nasce a escrita. Enquanto eu amar e sofrer, escrevo. E o leitor nunca será igual à pessoa que me inspira. Você, que me lê, nunca será quem eu amo. Se não, perde a graça. E vira realidade.

Voltando: sim, me assusto com as coisas que escrevo em estado de pensamento seu. Acabo por descobrir que sou um tonto completamente apaixonado. Que escreveria sonetos como os de Vinícius, se fosse capaz. Tenho vontade de ser galanteador como ele. De ter várias paixões e mulheres em uma vida só.
Esses grandes me inspiram a ter vontade até de fazer uma música em homenagem à. Ou textos intitulados Ode à você, o grande amor da minha vida. Nesses, de início, eu descreveria o seu corpo físico assim como o vejo. Pois não minto, meus olhos te veem como poesia humana. Meus olhos são cafonas. Meus olhos só veem linhas tênues, quadris cintilantes, olhos de caramelo. Eles veem o cheiro. Que o olfato tateia. Meu corpo tem seus sentidos trocados quando te vê passar. As palavras agradecem, porque você fica tão bonita quando parafraseada. Tentaria colocar em formas físicas a alma que você possui. Motivo do meu amor. Motivo da quebra de todas as regras. Motivo de tormento. Essa alma que me traz paz, e depois me tira. E por fim pediria proteção à Quem nos fez.
Que te guardasse, mesmo que longe de mim. Que te banhasse de felicidades, mesmo quando a minha se resume em falar de você. Ou te ver passar. Ou te ver. Te.

Eu escreveria tudo o que me desse na telha, mas sinto demasiado medo de abrir portas e não conseguir fechá-las. Quando escrevo, desabafo. Choro em letras, grito em frases, devaneio em textos. E quando o ponto final resolve aparecer, nem sempre consigo voltar à mim mesmo. Voltar à mim no sentido de aceitar que você não está aqui. Que me fez um buraco, mas que não posso tentar preenchê-lo. Afinal, isso que a dor da sua falta me faz - de te enfiar em mim - rouba as minhas noites. Me seduz no sono, onde posso te ter de tantas formas. E então gostaria de dormir durante toda a vida.

Ainda é noite, já chove, as nuvens ainda estão. Ainda tenho que voltar para a cama e tentar te prender em algum lugar que você esteja. Que não me venha, fantasiada, em sonho. Que se não acordo. E não quero acordar. E se acordar, terei que escrever. Te jogar nesse papel branco.

Já é dia 31 de dezembro de 2011. Não me sinto esperançoso. Não me sinto olhando o que fiz, nem planejando o que farei.
Não quero planejar nada. Vai que não me cabe. Vai que me folga.
Mas à você eu posso planejar que sorria. Posso desejar fundo sem que ninguém saiba.
Você vai sorrir ainda mais, amor. Você vai ser feliz, e quanto a mim, não te preocupes... Como já faz.
Continuarei aqui. Aceitando lições, papéis, fardos, dores, felicidades, angústias. Que já nem me importo mais.

Espero que essa conversa de mentira e o prazer da escrita me deem sono.
Estou cansado.

Boa noite
Céu.
Chuva.
Nuvem.
Frio.
Você.
Eu.
Papel e lápis (sagrados instrumentos).

Que sejamos felizes nas próximas noites que seguem.



9 de dezembro de 2011

Talvez eu nunca tenha conseguido dizer a que vim

Era aquele mesmo coração que começa a semana se pendurando na parede para ser mais uma vez o alvo de tiro ao alvo esse sim que se sente todo picado por agulhas que possuem veneno quase fatal e dói tanto exatamente por não ir a extremo algum apenas fica ali doendo como coisas sem solução ela então ali estava com os olhos abertos feito cachoeiras porém sem foco sem ação ela não estava mais ali ou na verdade não queria estar já estava tão cansada que preferia não se mexer
COMO SE NÃO SE MEXER FOSSE SOLUCIONAR ALGUMA COISA.
Ela precisava dizer a que veio e precisava dizer o que a doía há tanto tempo precisava dizer que não dizia há anos e que prendia tudo aqui dentro nesse coração machucado. preciSAVA.
Quando as palavras vem rápidas e intensas quando as palavras não tem ordem nem mesmo ponderação elas não são ouvidas... Elas são equivalentes a pensamentos que simplesmente passam e se esquecem
Ela não sabia mais ser ouvida nem se fazer uma pessoa ouvida por isso era cada vez mais machucada cada vez mais criticada afinal A PINTAVAM DA FORMA QUE VIAM e ela era ao ver deles alguém fechado em si mesmo alguém que só gritava e quem sabe alguém hipócrita para eles ela tinha a auto-estima como sua melhor amiga e era tão carne e unha da respectiva que exigia de si o melhor a ponto de ter síndrome de inferioridade se não o fosse.
Ela já não sabia mais como explicar que parecia conseguir ver o mundo em todos os seus viés e isso doía ela conseguia sentir o ódio que o pai dela sente e a vontade de se espancar que o irmão sentia ela conseguia sentir toda a dor do mundo e isso doía.
Nas costas.
Ela levava tudo isso e às vezes o coração jorrava sangue.
Doía nas costas e na garganta
E porque falar que doía no coração
Se o coração
o coração
já nem sabia mais falar
nem ouvir

ela estava cega muda surda
ela estava ela ali olhos abertos peito flagelado alma cansada
já não sabia mais dizer a que veio
já não mais
dizia
nem vinha
a que
querer.

a que vim?


eu digo?


vim?


a que?



como a vida muda sem a gente ver?

Quando eu era menina
No jardim das flores ela ficava lá, como uma estátua, observando as flores
Eu queria conseguir ver o momento em que as flores desabrocham
Ela também olhava pra cima, admirando as estrelas, e ao mesmo tempo pensava:
Como o céu anoitece sem a gente ver?

Um dia ela cresceu.
Depois que cresci fiquei como uma estátua observando a vida
E ela também olhava para dentro de si, e ficava tempos pensando:
Como a vida muda sem a gente ver?



sem título

deitada na cama ela dizia que esperava por alguém mesmo sabendo que isso nada mais era do que continuar deitada na cama até mesmo quando alguém chegasse porque esperar alguém deitada na cama ou em pé ou no sofá ou no banheiro é adiar o dia de mudar de atitude em todos os campos visíveis da vida esperar por alguém é basicamente a atitude que todos tomam ao sentir dor no peito ou na cabeça todos os tipos de dor podem remeter a alguém que ainda não existe ou que existiu e sumiu esperar por alguém nada mais é do que usar uma válvula de escape que não existe
pois bem ali deitada na cama ela pensava que esperava e chorava pois da cama não conseguia sair e o que mais doía: não conseguia pedir para sair. só sabia esperar porque esperar não pede verbo nem voz nem ação física e isso doía nela isso era covardia e por isso ali esperava.
por alguém. que a salvasse quem sabe da cama onde ela morre afinal esperar alguém na cama sem saber se levantar nem pedir licença é morrer.

27 de novembro de 2011

Tudo é o mesmo.

Mais uma vez, o mesmo vestido amarelo. E então os sapatos jogados no chão, ao lado dos meus pés cansados, parecem também os mesmos. Eles latejam no ritmo do meu coração cansado. Porque na verdade tudo é, de fato, o mesmo. Tudo se repete outra vez, e o meu corpo já faz parte desse vício: difícil. Que reside nos desejos - que residem em mim -, tão ocultos por necessidade existencial. Parece que o amor encontra portas fechadas sem chaves no caminho para a minha alma. E eu, sempre tão embriagada de paixão por nada, fico aqui, nesse quarto que quase clareia, batendo na porta que nunca se abriu e parece nunca se abrirá: o que não existe é o que me falta.
Se virou do avesso e dormiu sem paz, para outra vez tornar, no rebento do Sol por entre o azul celeste.


reflexões da madrugada de anteontem e da tarde de ontem.

E ali a escrita era uma caixinha de música antiga, na qual ela também guardava lembranças sensíveis.


01.Lembranças passam pelo filtro do tempo, o qual poetiza todas as dores.
02.O segundo passado é algo antigo, que pode conter essas lembranças cujas moram na caixinha de música.
03.Quando se abre um livro de olhos abertos, o livro penetra os olhos, e os olhos penetram o livro. A música,da mesma forma, introduz sua melodia em todos os nossos ocos.
04.Abrir a caixinha de música é algo que se faz quando se pode; por isso, quem abre a caixinha de música ouve. E lê. Porque antes faz-se um corte.











Quando.
escrevo.
me abro
então descubro.
em minhas palavras
aquilo.
que não sei.

Quando escrevo
deixo que a propriedade poetizadora do tempo
aja.
E então não me importo com o sujo dos sentimentos
nem com o amargo das dores
quando escrevo
reciclo. As vivências


Num ponto uma mulher
Numa palavra. O moço que limpa a rua
Numa exclamação. A raiva.
Em outra.
O amor universal.




26 de outubro de 2011

Inventário de terra infértil: o meu coração


Que te levava no meu inventário, e que nele, junto de ti, havia meus sonhos irrealizáveis. Obras da ilusão abortadas antes mesmo de começar a crescer. Mas ali ficavam: como chagas, marcas pedintes de realidade.
Que te levei, e depois, então, pude perceber que você também morrera. Pude perceber quando não te senti mais – como sentia sem te olhar. Te perdi e não foi por minha vontade – queria mesmo que você vivesse em minha alma – mas pela vontade dos homens. Então você se foi: morrera dentro de mim naquela noite fria e nem tão triste assim. Acordei e a cama estava vermelha cor de sangue.
Despertei ainda com a sensação – mais latente pela mancha no colchão – do sonho no qual a garotinha sofria sem saber o que estava por acontecer.
Mas fui eu quem derramou lágrimas do seu amor que nunca foi. Mas em mim insistiu a vida.
O fim é esse: mais uma vez, deixo que o amor dentro de mim seja exilado. Que se vá pra outro território: um desses que são férteis, que são mais fortes e mais bonitos. Meu coração é feito de terra pobre. Nada aqui vinga. Então vai. E o peço com a força que o sentimento de delicadeza que a tua presença um dia me deu: esse maior, que só deseja realidade e paz. Vai: de mim e desse corpo que não te teve maduro. Desse mesmo corpo que não escolheu – só foi semeado por Mão desconhecida – ter dentro do seu estômago um inventário de felicidades mal explicadas. Essas que morrem. Vai que não te quero morto aqui dentro. Já morrera em mim, mas vai-te.
Até hoje não consegui romper esse ciclo.
Queria que parassem de me semear.
Afinal ainda tanta morte habitava aqui dentro, e não queria mais, e não mais sabia qual caminho seguir, e tinha vontade de gritar, dessas vontades que tanto parecem vontade de desaparecer quanto de expurgar tudo que dentro existe e
Que talvez ficasse cega, e que tinha essa consciência, mas não sabia até quando.
Eu te dizia
Que.

23 de outubro de 2011

Por amor, até.

Vezes em que meu coração parece um violão
E algumas vezes ele é tocado por notas agudas demais
Essas que doem.

Vezes que ele mais parece um papel
Em que o lápis passa no topo e vai até até o fim, rasgando
Vezes que ele parece que vai estourar
E jorrar sangue por tudo que me rodeia

Essas vezes, em que meu corpo todo pulsa
E minhas lágrimas desaguam no meu rosto
Vezes em que não são como a calmaria das cachoeiras
Mas como o desespero de um tsunami
Vezes em que minhas mão geladas só me servem para esfriar o rosto quente
E tapar a boca
Ser porta para impedir as palavras doloridas

Essas vezes
Sentimentais e liricas
Mas todas de verdade.
Todas com um real sentimento
De me fazer não existir
Por amor, até.
Pra não sentir dor
Pra sacrificar
Tudo isso que é a vida.

17 de outubro de 2011

Apenas seguirei como encantado ao lado teu nº 02

Helena,

Até hoje finjo que tenho suas memórias.
Às vezes esqueço que finjo e me lembro dos dias em que brincávamos na praia: seu filho no meu colo, o seu olhar feliz de mãe, e logo depois o seu olhar- de mulher, feliz em mim.
Nosso beijo era tão somente o ponto final de pequenos e belos momentos escritos por duas mãos. 
Éramos felizes: construíamos momentos, nos olhávamos e nos beijávamos, então.
Eram esses dias na casa de praia que mais me sentiam: a chuva no fim da tarde, a pele macia e tranquila da sua criança  - que eu já sentia como fruto meu - enquanto dormia, e então nós dois no quarto de cima, nos lençóis brancos, um no outro, e eu não tinha pressa. Percorria o seu corpo como um artista frente à uma obra de arte. Você me parecia os livros do Vinícius que tanto amo, e enquanto passeava por tua pele, aprendia como viver um grande amor em cada relevo, em cada estria, em cada pêlo. Até chegar em seu olhar, que não só me chupava feito um zoom, mas me amarrava como algo que não sei. Eles sorriam frouxos, e a sua boca não sabia parar de olhar o meu olho, que te beijava.

Mulher, ali me apaixonei. Ali onde todos os pensamentos passam loucos, embaralhados. E então o futuro, o início, a mulher, o café, o jornal, o menino, a praia, o bar, a mão, o abraço, a luz, a verdade, o brilho, a folia, o samba: tudo se uniu e fez-se amor. 

Às vezes, Helena, penso na vontade que tenho de sentir a vontade que tinha
E de transformá-la verdade em minha vida.
Tenho vontade de voltar no tempo e dizer que seu olhar me penetrou e nunca mais me saiu.
De falar das vontades que me lembravam a memória para ver se então você também  as lembrava...
Quem sabe se poderíamos ter nos amado como o meu relato da minha alma te amou...

Helena, tenho tantas memórias guardadas, e junto delas o medo de perdê-las.

Estou deitado em uma cama nada macia. Talvez esteja sendo vítima da mesma doença que já te trouxe até aqui.
Vejo você nas moças de branco que me trazem a comida, e você realmente deve ser uma delas. A mesma que apresenta o jornal todo dia de manhã e, claro, me serve café no escritório depois do almoço.

Bem amada,
Se deliro, eu gosto.
Se morro,
também.
Afinal, desse modo, juntar-me hei a ti aí em cima, e as memórias se lembrarão
Que esquecidas elas são por esquecerem que um dia existiram sim
Em outras vidas
Dentro de mim.

15 de outubro de 2011

A partida do amor.

Acordei e senti um aperto no peito. O choro me subia pela garganta como se pudesse vomitá-lo. Saiu pelos olhos, mas misturei as lágrimas com a água fria que joguei no rosto. A mesma água que me diz todos os dias pela manhã a frase que devo repetir ao espelho, sob pena de meter os pés pelas mãos: não sonho mais.
Ontem não a disse, e hoje encontro meu corpo assim: cheio de marcas, meu coração flácido de tanto bater, minha cabeça em pensamentos desconexos, minha cama quente e a minha mão gelada.
E mais uma criança aqui dentro querendo crescer. Sei lá: criança, semente, gente.
O que importa é que hoje eu fiz o que tenho de fazer, todos os dias em que me esqueço de não sonhar.
Peguei o sonho, a criança, a semente, a gente - que aqui dentro insiste em ficar - pela mão, fui até a estação de trem, o enfiei no bonde, fiquei parado, olhei nos olhos, os enchi de lágrima. Me questionei por que. Por que de novo o choro.Tirei um lenço do bolso, limpei a lágrima nada querida, abanei o lenço.

Sem título II

E depois penso junto de mim:
E essa grande vontade
Às vezes até carregada de um teor parecido com dever
De sermos o que pensamos que nos define?
Nós levará a algum lugar, por fim?
Conseguiremos passar por algum dia satisfeitos com nosso desempenho de viver nós mesmos?

O não conseguir: deverá viver aqui machucando os corações latentes até o dia em que ele não mais existir?

Eu tenho vontade de me despir do meu corpo e enfim mostrar a minha alma.
Nesse nu minha auto-estima existe, porque nele garanto a minha vontade de crescer sem precisar dizer.

Tenho lembrando
Do momento que ainda viveremos
Em que os corpos já não mais serão
Somente os olhos: esses vão ler
Escrever
Agir
Demonstrar.

Sempre tenho vontade de fazer um silêncio enorme
Desses que incomodam
Mas não consigo
E sinto que não posso
Deixar de dizer a que vim

Mesmo que, posteriormente, isso me traga sentimentos angustiados
Afinal nem sempre consigo passar o que quero.
Mas escrevo.
E digo.









10 de outubro de 2011

Sobre a beleza do ser

Começo então a escrever como quem começa um pensamento:
não esboço palavras, agora, para descrever o ser humano em sua total beleza.

Simplesmente deixo com que as minhas mãos quentes escolham as letras que possam ter a essência que vos digo:

Durante o dia eu quase apaguei a luz da minha alma.
Algumas lágrimas eu derramei ao pensar na dor do mundo
Na hipocrisia dele
E no medo de a ver dentro de mim dali a instantes.

O meu dia não começou no nascer do Sol
E sim no seu poente.

Portanto:
Hoje eu tive vontade de abraçar pessoas desconhecidas.
Hoje eu amei uma porção de olhares:
alguns um pouco tristes
outros mais confiantes
uns olhos infantis
e outros que me diziam algo que não sei.

Todos eles me deram apenas uma vontade: a de unir o meu corpo junto ao dos que são, e assim respirar fundo e leve.

O meu hoje foi agora. E nele eu aplaudi, por dentro, a obra que Deus fez: a Humanidade.

Hoje eu escolho dizer que vim para dizer que amo o ser Humano
Como não podia deixar de ser, deposito em todos os que me rodeiam a esperança que em mim reside.

Que no erro do outro, eu veja um grande futuro acerto, assim como faço ao tropeçar.

A simplicidade das coisas boas me espanta
Mais do que a tristeza das barbaridades.

Quero dizer que vim para amar
O ser.

4 de outubro de 2011

Sem título

_Existe uma coisa, a qual você já deve ter ouvido meu olhar dizer, que eu agora quero olhar para você.

E assim a boca dela olhava os olhos do outro, que ouvia:

_Eu amo a sua vida.

2 de outubro de 2011

O amor é grande

A prova:

Todos os dias me deito na intenção de te suspender de mim.
Quando desperto, me levanto e te arrumo na cama:
Que você adormeça.

[O amor não cabe.
Portanto o seu exílio
É a maior prova que posso dar
De que ele é grande.
É sim.]







1 de outubro de 2011

O livro dos abraços

"Helena sonhou que deixava os sonhos esquecidos numa ilha.
Claribel Alegria recolhia os sonhos, os amarrava com uma fita e os guardava bem guardados. Mas as crianças da casa descobriam o esconderijo e queriam vestir os sonhos de Helena, e Claribel, zangada, dizia a eles:
   - Nisso ninguém mexe.
Então Claribel telefonava para Helena e perguntava:
   - O que faço com seus sonhos?" (pg. 45, Sonhos esquecidos)


"Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada  entre minhas pálpebras. Se pudesse, diria a ela que fosse embora; mas tenho uma mulher atravessada em minha garganta." (pg 90, A noite/1)

"Arranque-me, senhora, a roupa e as dúvidas. Dispa-me, dispa-me." (pg. 92, A noite/2)








28 de setembro de 2011

Mambembe dos espaços ocultos

Pensando no ser como país
E no outro como estrangeiro

O ser que visita o ser
No teu corpo terá penetrado?

Para ser, define-se o corpo
Ou também a alma não afirma aqui a nossa existência?

A visita que não é conhecida pelo visitado
Invasão então é
E assim clandestinos em corpos e não corpos somos nós?

E isso de ser, como é que se explica?
E quando não se sente fora de outro ser?

Tem gente mambembe -
Sem casa num lugar só

Esses têm casa em corpos
Invadem todos eles

E:
A língua desses tais territórios outros
Não seria prazeroso meio de se entranhar nesses corpos-habitats?
A língua
O meio
O código
De entrada


                                   Um ser
de cá
E outro
                                                        de lá.

Ah, que viagem boa, essa
E que maravilha o esbarrar dos seres
Pelos espaços ocultos
Que circundam a matéria...

27 de setembro de 2011

Amor

Você me cresce
Além de crescer em mim
E em mim agradece
Tendo gratidão, enfim,
Te destino o meu amor -
O meu pudor
Junto dele
As minhas sinceras desculpas
Por ter sentido dor

Obrigada, amor
Amor que me surgiu e me renova de tempos em tempos
Que em minha mão agarra e explica sem palavras
Que consola o meu não-entendimento

Por ser você a razão da minha dúvida
Obrigada por ser a lente
O auxílio mais permanente
Que padece em mim e é, sim, a dor que auxilia a sua própria causa.
A pureza que lava e tira do teu próprio rebento os resquícios impuros

Muito grata
E muito amante tua agora sou
Você é
Esplendor e brilho
E traduz em si o que há de melhor em mim

E assim cada vez mais amo
Com o amor pai
Ainda apaixonado
Mas acima de tudo
Admirado

25 de setembro de 2011

De. Vez. Em. Quando.

Às vezes eu paro
E penso
Em.

Fecho meus olhos
E para os céus lanço meus olhares
Em olhos fechados
Os olhares são lembranças
De.

São formas vindas de momentos
Que me deixaram a vontade
De.

Às vezes eu me permito sentir
Que.
Às vezes eu gosto do sentimento que
Não espera finalidade
Em.

22 de setembro de 2011

Se deitou com a barriga pra cima.
Respirou fundo
E escolheu qual das ilusões ela agora iria viver.

Qual nostalgia escolher para tocar?
Que cheiro sentir para lembrar?

Vejo o passado que passou por mim
Se esfregou em minha cara e foi embora
Ou vejo o futuro que não me aguarda?

Qual dos espinhos vou tentar tirar do lugar
E de qual dos machucados vou arrancar a casca?
Qual é a fissura que passa por cima da razão e me faz levar a mente
Ao futuro que não me aguarda?
Ao passado que se esfregou e não mais.
?

O aqui dentro parece mais um amontoado de cenários
Um acervo de figurinos
Uma biblioteca antiga

Lugares escuros e barulhentos
Vãos
Roupas sujas de sangue
E outras com substância de prazer passado.

É por ali que ela passa.
Toda noite.
Quando os olhos fecha.
Na intenção de tê-los abertos.
Olhando para.



O que as ilusões me trazem

Eu posso até não estar acompanhada
Mas a minha poesia nunca fica só
Se a vida me ganha num momento
Se ela me mostra uma realidade
Ou até uma inspiração
Em forma de gente
Embalo tudo no aqui e levo pra casa

Arranco do peito e ponho no papel
A energia que perpassa o lápis 
Enquanto ele desvirgina o papel
Me consola -
O impossível dentro do impossível me serve de alimento
Escrevo, então
E assim percebo: apenas começo
Não penso
Simplesmente sinto

E o lápis rabisca
É ele que decifra
O que não se pode dizer
Ele faz palavras
Do que o aqui dentro
Cala
E me cala.

Brilha

Brilha
Que teu brilho me cintila
Que sua silhueta me situa
Que a tua mão me guia
Que o teu olhar me adentra
Que teu sorriso me ama
Brilha
Que mais parece uma estrela
O ser humano que aqui agora habita
(E que sempre aqui esteja).

13 de setembro de 2011

Escrita inconclusiva de uma tarde cotitiana de terça-feira.

Estou com vontade de fazer um silêncio muito grande. Quando aqui dentro tem alimento suficiente para saciar a minha fome - que mais parece solidão, fico sem social alguma.

- Mas você gostou, não é, daquele show?
- Uhum.
- Você está chateada?
- Tranquila.
- Fica com essa cara estranha olhando pro lado...
- Não, tô quieta, só.

A verdade é que eu queria que o meu silêncio bastasse não só a mim mas ao mundo. Que nele todos os meus sentimentos pudessem ser transcritos de forma artística. Poética, nem tanto. Mas objetiva, seca e real.
Da realidade e da dignidade no meu sentimento sei eu. Mas colocá-los para fora com a verossimilhança que o silêncio guarda, não consigo. E acho que não hei de conseguir.
Por isso cada vez mais tenho medo de falar. Covardia em escrever e pouca questão de não deixar passar uma inspiração.
Tudo isso é muito proporcional à complexidade do que sinto. A minha inspiração, ao meu ver, nasce em um leito cheio de luz, prazer, imaginação... Mas antes mesmo de fazê-la fato...
Me estanco.
E paro.


[Nenhuma conclusão feita]
[Como no texto,
como em mim]

5 de setembro de 2011

Vim para ser templo.

Me olhei por dentro diversas vezes quando o caminho parou em mim.
Ele que para de me percorrer, para que eu veja os seus obstáculos e respire calma na minha coragem.
Sempre foi um vento leve e com cheiro de alecrim que me beijou a face. Que me abraçou o corpo com quem sente a demora.

Não sei porque tantas vezes eu o esqueci... A gente se burla, não é? A gente se mata, se machuca, se multila, se esquece, se perde...
Concordo que Deus deve nos proteger de nós mesmos.

A verdade é que sempre soube o que me traz a felicidade. A calma, ela vestida de gente, coberta de humildade, cheiro acalentador... E o melhor: nenhum obstáculo.
Como nós somos crueis com nós mesmos. Esquecemos de praticar o que mais nos faz feliz, e o que ninguém pode impedir. Sob o ponto de vista de ideologia, ninguém pode conter o bem. Sua família nunca vai te impedir de ser bom. A humanidade pode até te afrontar com os fatos, com as guerras, com e com o ódio. Mas você nunca será condenado por praticar o bem. Nunca ninguém vai te impedir de dar abraços fraternos, de sorrir sem motivo concreto no nosso mundo, de espalhar energia boa e sair fazendo o bem que nem traquinagem.

Às vezes sou Amélie Poulain mesmo, vivendo só nos meus sonhos, e continuo sendo ela quando sinto vontade de fazer o bem a humanidade como um vício. E que nunca me vejam, simplesmente abram um sorriso.

Confesso que fico abismada com o bem que o bem faz em mim só de pensar nessas coisas, já que nada fiz na vida para concretizar esses pensamentos.
Imagina a reciclagem de sentimentos que a benfeitoria faz em uma pessoa?
Restaura tudo, oxigena, abre, benze, e enfim...
Viramos templos.


Eu quero virar um templo Dele.
Quero dizer a que vim ao mundo
E quem me acompanha

Devo dizer a que vim e o que vim fazer

Quero limpar as mãos com a sujeira do mundo

Escrever no ceu que nos cobre

A frase mais bela:

"Iluminar tudo. Iluminar a todos".

Amém

17 de agosto de 2011

Alienar: Tornar-se alienado; manter-se alheio aos acontecimentos.

Fica o dito pelo não dito
E então eu me recolho ao âmago do meu corpo
Que tem me dito:
Felicidade desconhece universalidade

Mesmo que seja essa afirmação sempre mais vívida nos momentos de decepção
Afirmo que:
Só há felicidade onde também há alienação.

Parece que Vinícius tinha razão quando dizia que a tristeza nunca termina
E a felicidade sim
Como se o branco estivesse sobre o preto
E não o preto entre o branco

Sempre preferi acreditar que quem tem fim é a tristeza
Mas durante a nossa existência
Terei de me convencer que se aqui paro para refletir
E o meu pranto que tantas vezes já esteve aqui dentro agora se expressa
A tristeza não tem fim
Ela é como uma onda que
vem
e
vai.


- Uma mulher machucada em várias partes do seu corpo decide-se por correr atrás de sua felicidade. Pinta a boca, põe um belo e bom vestido que esconda as suas manchas e sai por aí.
Em um desses dias o olhar dela encontra o olhar de um homem que na rua passa. O seu amor parece ser promessa quando suas mãos passam pelo teu corpo e os olhos continuam abertos, se olhando. No beijo mais pleno, no momento em que sua cabeça não conseguia sequer saber o que é tristeza, numa espécie de embriaguez que alegra, o homem misterioso e sedutor arranca o vestido da mulher em um golpe só, e revela-se cruel por ter o hábito de apaixonar as moças e ir embora por nunca mais voltar. Suas feridas sangram, enquanto ele bate a porta fortemente. Seu corpo chora lágrimas rubras, e ela então volta a acreditar: nunca cicatrizará -


11 de agosto de 2011

Prestes a ligar o botão do foda-se

Passaram-se pouco mais de 5 anos e agora chego, então, a alguns centímetros do botão mais esperado: o do foda-se. Falo aqui do meu eu cênico, do meu eu na caixa cênica, no quadrado cênico, e quem sabe também no meu eu da vida, que terá suas atitudes todas refletidas na encenação. Cinco anos fazendo exercícios e mais exercícios, peças acadêmicas atrás de peças acadêmicas... Quantos textos, quantos cadernos, quantos livros começados a ler e deixados na cabeçeira por medo. Por sentir a dor que o bichinho que morde nosso peito provoca. A dor de olhar pra dentro e se reconhecer pequeno a cada passo.
O ator é um ser vaidoso. Aprendi a aceitar que sim, somos todos exibicionistas. E qualquer escorregão, ou até mesmo uma mordidinha que nos faz sair da teoria, praticar e então intrigar-se com o próprio erro, nos fere a alma. Admito então a causa da minha dor desta noite -que não parece nada vaidosa, mas eu encaro a mim mesma e digo: Sim, vaidosa, exibicionista e o pior: ansiosa como o quê. A minha dor tem nascimento na vontade, no amor ao teatro, no amor a arte, na admiração dos grandes, e na pressa.
Essa que não nos deixa sermos perfeitos, que não nos deixa exercitar, experimentar, aceitar o tropeço...
Cinco anos não são nada, se não o início de uma preparação do terreno. Que agora está ainda sendo preparado, para - não sei em quanto tempo - começar a plantação. Fazer o quê? Se tantas vezes agradeci aos Céus por escolher uma profissão que não me exigisse estudo para o vestibular, que agora eu acorde e veja que o ator nunca para. Eu sempre disse isso mas hoje sei que ele nunca para não só por sede, e necessidade de aprimoramento. Mas também por nunca se sentir apto em si mesmo. Por ter sede de reconhecimento, além de conhecimento, e por isso mesmo nunca se sentir completamente farto. Farto dos aplausos. Nós queremos sempre mais!
Se não, óh meu Deus, seremos sempre tão pequenos!
Até parece que não sabemos que nós temos que nos focar no nosso futuro mais próximo, e ele não passa de uma concentração. De firmeza, dedicação. E de valorizar os momentos da vida como instrumento.
Teatro é poesia, é arte puríssima. E a gente costuma colocá-la sempre na parte emocional da gente. Tirá-la de lá, isto é, colocar a fantasia fora da fantasia pode ser dificil pra muita gente. Inclusive pra mim, que tenho me reconhecido um tanto Amélie Poulain, vivendo somente aqui, e não fora.
Coragem é o que me falta, de aceitar desafios, olhar para o meu erro, levantar a bandeira dele e com isso mostrar um grande acerto.
Deixar de ser covarde e me mostrar ridícula em cena - ao ponto de me travestir de outra pessoa, e emocionar a todos.
É uma linha tênue que divide o absurdo, o impróprio e o bizarro do mágico, provocante e encantador. Essa linha se chama eu. Eu interior que morre de medo! Que morre de vaidade, isso sim, correndo o risco de encantar e logo depois decepcionar por querer além da mão o braço, as pernas, o corpo todo.

Voltando ao título que dei ao meu pensamento posto aqui em palavras, me vejo apenas hoje perto do botão do foda-se, que se resume em algo que vai me livrar, ou apenas impulsionar, a esquecer toda essa vaidade boba, de ter coragem, de sair da fantasia com a outra fantasia nos braços e nunca mais largar, por mais que esteja no mundo de verdade. Que eu carregue para todo lugar a minha caixa cênica e nunca mais a abandone. Que eu diga a que vim de peito aberto pro mundo, que eu semeie a magia, a alegria, a paz e todos os outros mundos que possam despertar sementes em outras pessoas.

Eu quero dizer a que vim
Eu vim para atuar
E assim, dizer.


10 de agosto de 2011

Sobre seus olhos

E como não saber que o que me dói não é a pele não tocada, e sim a pele não visitada pelo sangue latente da paixão, por dentro. São os olhos que me fazem ter o fascínio de viver. Olhos que olho, olho que os olho.
Acabo então por me apaixonar - mais uma vez, não só pelos seus, cor de mel, mas também pela escrita da palavra: o-lhos. Parece palavra estrangeira. Tudo o que é estranho me instiga. Sempre quero adentrar os universos paralelos que circundam o meu.
Como o seu, de porta caramelada, redonda, surrealista. De frente pra esse mundo as palavras soam, sussuram, e o mundo faz silêncio.


7 de agosto de 2011

Pra dentro

Desligou o telefone com o fôlego por acabar. A boca amargava, e esse amargo doía as costas. O coração parecia estar tão pra dentro que nela encostava, e ele batia como se reprimisse a si mesmo: estava cansado de só bater mais forte nos sonhos, e já não aguentava mais se sentir vivo apenas quando o corpo se fingia de morto.
Nunca havia saído de casa, e já tinha trauma da rua.

(falta de paixão, covardia e preguiça do mundo. decepção, desilusão. boca tampada com a mão.)

26 de julho de 2011

Iluminar, Vladimir Maiakovski

Iluminar, iluminar sempre, iluminar tudo, iluminar todos, apenas iluminar. Esse é o meu lema, e o do Sol.

27 de junho de 2011

Um fanal dentro da noite.

Só quando fechava os olhos que você me abraçava, e seu cheiro sempre me lembrou o da minha irmã. Fora da cama a gente se olhava como no dia em que assumimos o nosso mútuo sentimento aflito.
A gente não se tocava, e o seu olho sempre me meteu. Sempre me penetrou um medo, um suor, um fundo pesado no centro do meu corpo, um gelado em meus extremos e um molhado nas minhas janelas.
Sua roupa sempre me encheu de fome, desejo e sede. Me dava sempre vontade de tomar vinho, e eu te comia como se na realidade te degustasse com um desses safra boa. E eu nem te tocava as mãos. Quando era você o que os meus olhos viam, nem a vontade de tocar violão vinha me visitar, mesmo que esse fosse você. Gostava de te olhar, de me deixar levar como uma criança que se deixa levar por qualquer ser humano – que você penetrasse em meus olhos até chegar no orgasmo da minha alma.
Você me trazia um sono bom de leseira matinal, um aconchego de lençol quente, e o sol raiava, ele rompia o hímen da noite e mais parecia teus olhos me encarando pela janela do meu quarto.
Agora, então, o dia começa e o elevador para no quarto andar.
Dali, te olho quase sem vontade de que a fantasia seja real - Fantasias têm a textura do inacabado sempre, e realidades são músicas curtas, cafés pequenos.

- Bom dia.


Talvez isso de se deitar sozinho, dormir com você e acordar desacompanhado não fosse o suficiente para dizer que, na hora em que você responde “Dia”, enquanto aperta o botão do térreo e procura um lugar para colocar os olhos, eu sinto o mesmo sentimento de quando você os coloca dentro de mim nas madrugadas frias.
Então eu ainda poderia encontrar na porta uma correspondência de alguma vizinha, devolvê-la ao porteiro e voltar ao meu apartamento, preocupado com a comida do gato. Mas entregaram a correspondência errada, e no chão havia algo seu. E ler o seu nome era como saborear o primeiro livro de Vinícius, era como ouvir Bolero de Ravel de olhos fechados, era o mesmo que comer feijão refogado na hora: a fonética e a escrita passeavam na minha mente como quem se expõe.
Agora bastava saber que eu as via e um desejo louco me subia pelas pernas. Que queria então que você fosse um país distante, porém possível, onde eu desvendasse cada palavra de um idioma tão instigante: o teu nome. E que nesse país eu repousasse frouxo e livre, me fixando no litoral dos seus olhos arregalados, sempre a me olhar, mesmo quando os meus igualmente estivessem, para concluir que.

13 de junho de 2011

Na parte superior da página 19 do livro Budapeste:

No mesmo banco
Debaixo da mesma árvore
Olhando para a mesma Lua
Sentindo aflorar os mesmos sonhos
O que os prende, e com que finalidade?
Se na volta completa do relógio é o mesmo céu que abriga?
Se nos intervalos da vida é sempre a poesia presa que reclama?
No livro que chama
No filme que questiona
Continua sendo você
Sonho meu, o assunto principal
Qual é a combinação perfeita de palavras que abre a tua liberdade?
Que poesia te faz pássaro para sair voando de minhas costas?
Qual é o toque que te realiza
E a manhã que te inicia?
Estou farta de ser convicta
Mas amo a certeza da sua existência
E nenhuma explicação existe
Salvo a de que você nada mais é do que
O fruto do meu amor
Comigo mesma
O rebento único e impossível
Um sonho posto na prateleira de uma vida
Vá embora não
Que há de haver algum lugar
Algum imenso casarão
Onde só sim
E sem não

28 de maio de 2011

Perdão aos sonhos sufocados

A minha alma é uma casinha de madeira.
Vezes visitada e enfeitada por dentro, vezes abandonada, caindo aos pedaços- quando tento retocar a pintura do lado de fora, para que ninguém que passe na rua desconfie de que aqui há dor.

O fato é que, já há algum tempo, venho mudando os móveis de lugar, proibindo a entrada de alguns, e implorando a visita de outros.
O que não mudei, mas abandonei, foi o chão... Que hoje é coberto pela poeira e pelas folhas secas que o outono trouxe pelas janelas abertas.
No meu eterno receio, ando de um lado para o outro, ouvindo o barulhinho que o meu peso faz ao quebrar as folhas. A sensação crocante do tédio.

Existem sonhos antigos enterrados embaixo dessa casa. E outros um pouco mais recentes debaixo dessas folhas. Tem cor brotando no canto da parede. Tem vida pulsando aqui em baixo.

Sento, então, na minha antiga poltrona. Essa que me faz olhar para a minha casa e perguntar o que estou fazendo aqui. Que caminhos segui e que invasões permiti... A minha poltrona é presa ao chão. Ela nunca é coberta, ela nunca se cansa de chamar à reflexão. A minha poltrona é como os morcegos de Augusto dos Anjos. É a consciência que nunca desiste.

A cor que brota por debaixo das folhas secas me dá vontade de mudar a minha casa de lugar e passear na floresta do mundo.
É nostálgica e parece que chama a atenção para tudo o que fui, e se ainda me toca, por que não o que sou?
Até que ponto as escolhas que faço são minhas? E até onde posso prometer e querer, se vida nos mostra que nunca seremos os mesmos? Convicções são árvores velhas e decadentes tentando se enganar de que nunca irão morrer. As convicções são ilusões materializadas.

O caminho existe ao pisar de cada passo, e é o passado quem nos conduz.
Eu vivo o passado do meu passo, e preciso saber que direção seguir.

Existe um mapa escondido por debaixo dessas folhas.

O tempo bate à porta, e eu sei que ele veio se queixar....
Eu o perdi.
E ainda assim, ele quer se reconciliar e me levar junto dele.
Quer que eu passe, assim, leve e sem que ninguém perceba, pela vida do mundo...

Mas antes, eu tiro essas folhas....
Eu liberto esses sonhos.
Eu os desperto do sono que eu provoquei, e abro o peito para o que ainda pode ser compatível as minhas cicatrizes...

Eu quero seguir o mapa dos meus sonhos.






25 de maio de 2011

Algum pensamento pós dia de cansaço com sentimentos de todos os dias

Chegou em casa com o ar cansado de terça-feira. Lembrou-se do quanto teria que ser forte para aguentar, até o fim da semana, esse papel de gente forte que se faz no trabalho. Foi então até o banheiro, lavou o rosto e olhou-se profundamente pelo espelho. No olho que olhava, moravam dúvidas que pareciam eternas. Teorias que não saiam da mente, parecendo não ter potencial nenhum para organizar-se e transpor-se em palavras.
Pensava sobre o limite da realidade e da fantasia. O que quer ser apenas sonhado, e nunca realizado, por não ter lugar no mundo que nós conhecemos. Pensava sobre os sentimentos, e os sentia enquanto se olhava. Via, por dentro, as pessoas e as situações que os despertaram e se perguntava sobre a veracidade da existência, e da pureza do ser. Pensava em suas projeções. Sonhava tudo que já foi real. Lembrava de momentos com uma nova aquarela de cores. Confundia a fantasia dos amores com a realidade das dores.
Sentia falta de um carinho. E vontade de admirar. Lembrava-se dos tempos em que almejava uma vida distante - em que sonhava como sonham as boas crianças.
Sacodiu a cabeça de um lado para o outro e, olhando para a torneira que pingava, lembrou do tempo, do prazo, do que é vento. Falou em voz alta: "Não sonho mais".
Sentiu medo
E continuou a viver.

8 de abril de 2011

Manoel de Barros, Lições de R.Q

"Aprendi com Rômulo Quiroga (um pintor boliviano):
A expressão reta não sonha.
Não use o traço acostumado.
A força de um artista vem das suas derrotas.
Só a alma atormentada pode trazer para a voz um
formato de pássaro.
Arte não tem pensa:
O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo.
Isto seja:
Deus deu a forma. Os artistas desformam.
É preciso desformar o mundo:
Tirar da natureza as naturalidades.
Fazer cavalo verde, por exemplo.
Fazer noiva camponesa voar - como em Chagall.

Agora é só puxar o alarme do silêncio que eu saio por
aí a desformar.

Até já inventei mulher de 7 peitos para fazer vaginação
comigo."

O que será que seria?

Eu também penso o que será que seria.
Quanto aos beijos a mais que me daria
O olho aberto que me cobria
O arrepio da espinha que me sentia
O pulsar de veias que me rompia
Num fluir de corpos à regalia
O que será que seria, amor?
De uma tarde antiga, mas não tardia?
De um sol na pele que irradia?
O que será que seria, se ria sem nada dizer
E ia sem me querer
E andava pela estrada afora
No dia de não te ver
E eu não me daria
E você ria
E ia
Sem me dizer...

28 de março de 2011

Não existe porta de saída de nós mesmos.

Quando sinto vontade de ir embora
Os meus olhos choram a insatisfação de serem meus
E me culpam por essa vida aflita
Por esse coração doente.

Não aguento visitar a minha dor.
Eu a prendi sem vencê-la
E ela bate desesperadamente aqui.
Talvez seja o único lugar onde poderia viver em paz.

26 de março de 2011

O tempo usa uma coroa e um incansável discurso.

O tempo passou.

Foi o Sol que se pôs muito rapidamente
Ou a vida que o puxou dos braços dela?

São as horas passadas traduzidas em imagens que flutuam sob o céu
É a música de fundo que não me esquece
Ou

O tempo passou.

É a tristeza que dá lugar para a alegria
Ou a alegria que senta um pouco pra chorar?
É o tempo que lembra ou

O tempo passou.

Mas ela não.
Ele
O tempo
Passa por ela.
Por entre ela
Por ela
Sussurrando a insistência

Não há pôr do sol que impeça
O tempo
De lembrá-la do amanhecer do seu corpo naquele momento
Não há vida ruim que passe na frente da vida alegre que o tempo insiste.
O tempo não é gentil com a tristeza.
Ele insiste.

O tempo passa
Com seus tempos passados:
É o tempo-rei da vida
Com seus séquitos – apenas esses que venceram
Que salvaram
Que marcaram a pátria do corpo
Passa por ela
Sempre
Rápido
Incansável
Por entre músicas
Por entre cores
Por entre pernas
Entre cheiros
Entre sonhos.

O tempo passou.
E ela não passa.

Ela, mais uma vez, com suas mãos estiradas, tentando fazer parte: ser vento. Ser tempo. Ser arte.

12 de março de 2011

Sem amor a língua dos homens e dos anjos nada seria (e nada é).

Quero dizer que vim para não dizer.

Continuar calando o que cala...
O que diz sempre mais.
Não é paixão...
Nem alegria...
Nem satisfação...
E nada de tristeza ou ódio.
Febre ou dor...
Simplesmente o silêncio
Que mais eficaz seria perto dos teus olhos...
Não seria só o silêncio do peito...
Mas o do céu. E das mãos suadas.
Dos carros, e dos passos...
E dos pensamentos rápidos e reflexivos que nunca param....

Vim para dizer o indizível, simular o que não se traduz em letras...
Somente em calor...
Em respiração...
Em olhar.

Tudo acaba, mas parece que esse silêncio demora.
Ele deixa de ser assim que a chuva não mais for gostosa...
Assim que algumas músicas não tocarem mais. A mim.
Somente quando não mais a arte for no meu âmago
E quando a mágoa desmascarar o encanto.

Isso que diz sempre mais e que não precisa de palavra
Amor.
Quero seu esclarecimento então como quero o meu.
Sua paz como quero em minha morada.
O sagrado e o terreno bom...
Quero felicidade pro silêncio soar melhor...
E continuar existindo
sempre o indizível...
calor...
respiração...
Olhar, então?

(É dor que desatina sem doer)

27 de fevereiro de 2011

"Eram os meus nos teus e os teus nos meus como olhos que dizem adeus"

Estou queimando debaixo do cobertor.
Porque quando você vem visitar meus pensamentos, quando entra na frente de qualquer pessoa e qualquer devaneio que me habita - e me encara com esses olhos de dias passados, esse cabelo de agosto, essa boca de junho, essas mãos de sempre, meu sangue fica querendo sair por qualquer lugar. Aqui fica quente e ele sempre querendo chamar sua atenção. Não deve ele saber que no mundo em que vivo não existe você. Existe, e muito, aqui onde você me olha. Lá nas entranhas. Enquanto você me adentra com o olhar, relembro não só coisas reais - se é que se chama algo de real, mas orgulho-me do subjetivo: do que fui na época que amei você (esse que existia). Orgulho-me de ter estado em alguns dias de sua vida. Como um cão faminto, acabo por aceitar, sim, migalhas, e me sentir mais que satisfeito por ter ouvido sua voz enquanto ninguém mais ouvia. Por ter tido o suor de suas mãos nas minhas - esse que pelo menos naquele segundo de ninguém mais foi. Alegro-me por ter ouvido sua gargalhada forte e sedutora. Por meus olhos um dia terem te visto, me alegro. Por ter um dia escrito meu nome, mesmo que em sua agenda telefônica. Por um dia ter estado em seu pensamento, assim, entrando na frente de pessoas talvez até mais importantes que eu. Te olhando e te encarando, chamando pra mim. Mesmo que não tenha me visto, ou que tenha me ignorado, alegro-me por um dia ter estado ai, nessa mente que é mãe de palavras tão belas, ideias tão grandes e tantas outras coisas que amo.
Obrigada por ter vindo me visitar. Estava me sentindo muito só... E pensando que o meu amor tão grande e bobo não era mais seu.
Agora vai, que preciso dormir.
Mas volta, tá?

26 de fevereiro de 2011

Escrever é registrar a embriaguez de um pensamento. As coisas que escrevo sao como o repente de um bebado: Ali discursando como se ele todo fosse todo o falar, quando nao passa de um devaneio. A escrita é sim registro que, quando escrito e lido, nao se pode mudar. Mas o pensamento é sujeito a diversas versoes do pensador. Quem escreve sabe que escrever é assumir extremos de pensamentos pequenos. É fazer deles o motivo pelo qual vive o personagem. Que nem sempre é realmente quem escreve, e sim a reunião de tantas memórias sentimentais do mesmo, retorcidas, melhoradas, pioradas...
Escrever é libertar o peito das grades da sociedade. É inventar-se e inventar o outro.

20 de fevereiro de 2011

Meu amigo Pedro

Prefácio

Existe um menino.
Um menino, só.
Que não é só por tanto ter o meu amor.
E dele agora falo.



A boca da mãe. Todo ele da mãe. O gênio do pai.

Caminhava pelas ruas de Brasília enquanto relembrava a história da sua vida. O menino que tem o seu lugar no lugar que for, sob apenas uma condição: música, que tenha. Paixão, também. Digo paixão no seu sentido de coisa efêmera, essas sensações de felicidade e euforia. Diferente da irmã, que diz que depois da sua euforia sempre vem o nó e, consequentemente, a tristeza, esse menino gostava de aproveitar alguns prazeres da vida, nem todos eles, - algo dentro dele sempre o fez pisar no freio em algumas ocasiões, diferente dos amigos -, sem medir as consequências.
Afinal ao voltar para a sua rotina, ele estaria, obviamente, preso a alegria que o havia consumido no dia anterior. Ele estaria, como de costume, se esticando pelo ponteiro do relógio, para que não passasse a sensação de liberdade e amor que a cerveja lhe dava, para que não passasse o sacio do vício que o cigarro lhe entranhava, para que não passasse o gosto doce ainda mais doce que sua namorada lhe dava e que -principalmente -, não parasse a música que tocava e o tocava.
Em seu escritório a voz que faz ligações é ainda a que canta e que faz todos os seus orgãos respirarem de forma melhor. A mente que pensa é ainda a que sonha. Os olhos são aqueles ainda que não querem nunca chorar. Que obrigam o peito a ser forte.

Um dos dias em que ele estava percorrendo seu interior, distraído, tocando o seu violão e fazendo música com os achados sobre o próprio, o menino que sempre sorria e sempre lutava sentou numa mesa de bar para matar bem uma aula com os amigos. Cerveja, cigarro e algumas drogas participando desse aflorar da vida que não somente ele mas também os outros adolescentes passavam. Eram ali, tantas mentes cheias de dúvidas, de inquietações, angústias e tanta vontade de ali não estar por não existir. Tanta revolta com o mundo e consigo, tanto cansaço novo. A cerveja descia por sua garganta como algo que anestesiava as dores latentes de sua alma. Eram os seus primeiros goles. Ele gostou. Os amigos fumando e sorrindo lhe mostravam que o cigarro não era só a fumaça que ele repugnava quando sua mãe ia lhe beijar na infância. Agora era também sinal de maturidade e quem sabe uma forma de não-dor. Ou uma forma de foda-se - sabe-se bem que o foda-se dá uma impressão de que realmente tudo vai se foder e desaparecer, foda-se, então pula-se esse obstáculo. Mas, não -, me dá um brother, também quero.
Tudo isso anestesiava as dores do menino do sorriso largo e da boca carnuda. E todos os dias de dúvidas secas em casa, martelando sua cabeça como uma verdade que não quer abandonar, os dias com gosto amargo na boca, dor nas costas e sensação de limitação, todos os dias em que sentia que as pessoas eram mais felizes que ele, vinham à sua mente como seguidos motivos para que ele anestesiasse toda essa vida ainda mais. As lembranças sempre doem. Doem na alma.
Então quem sabe a bebida não o fizesse esquecer de completamente tudo, queimar tudo, foder tudo, acabar com tudo e quem sabe não iria ele chegar em casa e não achar sua mãe uma maluca, o pai um chato e a irmã uma imbecil que se faz de santa?
A vida desse menino então menino mudado ia ganhando outro sentido. Mais do que qualquer uma dessas hipóteses, agora ele não ligava. Não ligava para as brigas cotidianas dos pais, não dava a mínima para o que todos achavam das suas roupas dois numeros mais largas que seu corpo magro e para deixar isso ainda mais largado, ele ouvia em alto e bom som os seus rocks em casa, e ficava ainda mais feliz quando via que estava conseguindo fazer o que queria: incomodar os acomodados.

Era realmente melhor pensar que está sempre tudo bem. É sempre melhor sorrir quando alguém lhe pede o choro. É sempre melhor pensar que se está melhor que o outro para nunca se questionar. Se questionar dói. E ele foi levando a vida sem se questionar, e até ai não havia problema, ele era apenas um adolescente. Adolescentes não são perdoados quando erram. Mas também são entendidos quando são vistos como "ignorantes".

A vida passou sobre ele, o foda-se combinou com a ideia de se esticar pelo relogio e mesmo sendo agora, perante a lei, um adulto, Pedro continua ignorando seus questionamentos. Continua não se cobrando, exceto quanto ao rigor da sua banda, à melodia bem feita e os shows lotados. Exceto depois das brigas em casa, quando o amor que ele tem por todos os chama e ele se arrepende.

Seu pai, outro menino. Que nasceu pobre, estudou valente, ganhou dinheiro e... Traumatizou sua vida. Não sabe o que é viver sem trabalho, e é preciso dizer que o seu orgulho subiu um pouco à cabeça - não que isso não seja entendível.

Sua mãe, uma menina. Tão menina. Ainda tão cheia de duvidas. Nunca teve coragem de jogá-las fora, nem de anestesiá-las, nem de fugir... - É perceptível que as mulheres dessa família são parecidas, assim como os homens se assemelham.

Eles cobram. A família cobra. O mundo cobra. Agora seu habitat é outro. E as condições de vida também, é claro. Visto por esse cenário da vida, Pedro, esse menino, é um homem que não dá muita atenção para as responsabilidades profissionais - "afinal tocar e cantar, aliás, todo tipo de arte, nunca pode ser considerado profissão... Só hobbie, meu filho..." -, que já gostava de beber e que gosta ainda mais. Pois suas lembranças não são somente aquelas da época de adolescente. Quando a cerveja percorre a sua garganta, ela lembra o julgamento com gosto amargo do mundo - que se diz real -, e de sua família. E chega ácida no fígado. Machuca. Ele tem um buraco no peito que depois de 20 anos só pode ser mais ou menos preenchido com o amor. Esse que veio traduzido em pele macia e branca, olhos desenhados e cabelos longos e castanhos. Posto ali, tão perto de casa. Feito assim. Para melhor um pouco, enfim. Já que agora tinha uma menina tão parecida com ele - afinal, parece mesmo que foi tudo sob medida -, ele podia ter um pretexto para ter um pouco mais de paz dentro de casa. Ficava ali, assistia um filme, comia um jantar feito pelo seu amor e pela sua mãe, tinha a sua cerveja, o seu carro, a sua faculdade.

A paixão de tudo parece sempre ter o mesmo efeito que as drogas.
A faculdade não dura para sempre. O namoro já não sacia mais. Vira amor e vai pra alma. O buraco no peito continua. Seu carro já não dá mais o mesmo prazer. É sempre souvenir da sua dependência perante ao pai. E só resta a cerveja. E também o whisky, e o cigarro... E a música.
Volta ele sempre para a sua sensação momentânea, mas que incrivelmente até hoje foi a unica coisa que lhe fez feliz por mais de 2 anos.

Já se passou mais tempo e agora além de tudo esse menino é um homem recém formado, julgado como viciado - sim, ele tem muitos vícios, mas por que vicios? É só o que lhe faz bem. E por que essa denominação mesquinha e humilhante da sociedade? -.
Ele realmente tenta. Trabalha e procura sempre estabelecer a paz. Esse menino é tão grande amor.
Demonstrá-lo não é tão bom para ele, porque ele lembra que quando era todo sentimento isso naõ o fazia bem. Então até hoje ele foge. Mas canaliza boa parte dos seus sentimentos em seu sorriso, que prende as pessoas perto dele, que faz com que as pessoas não tenham coragem de abandoná-lo em hipótese nenhuma.

É tão dificil chamar sua atenção à vida. E mostrar que ele terá que viver conforme a banda toca. Por mais que não seja a de seu gosto.
É tão dificil dizer a alguem que age com emoção que a razão tem o caminho melhor para ele.
O caminho certo é sempre o mais doloroso.
E o mais dificil é decidir por ele. Dar o primeiro passo.
Coisa que esse menino lindo, tão belo, tem adiado há tanto tempo.
Não chamo de covardia. Ele só não quer ir. Ele é insistente. E não teimoso. Ele testa outros caminhos antes. Vai que também dá certo.

Tanta música parece dizê-lo.
E para mim é tão obvio o meu choro quando o imagino feliz e realizado.
É tão igual ao nascer de uma vida vê-lo em cima do palco fazendo o que ele mais gosta, vendo suas veias cheias de vida, suas mãos firmes, segurando o que ele ama...

Eu tento agir com a melhor das razões em minha vida.
Mas confesso que os olhos dele, esse seu amor, essa sua euforia de vida, me conquistam, e eu só posso desejar que a vida não o surpreenda e não queira machucá-lo ainda mais.

Você disse para eu não sair correndo. E não fugir de você.
Aqui estou.
Acho que desde sempre. E para sempre.

Brasília, 20 de fevereiro de 2011
Amo você,
Sua irmã.

Pedro, onde cê vai eu também vou.
Mas tudo acaba onde começou.

Para mudar o mundo
Comece com um passo
Por menor que seja
O primeiro passo é o mais difícil
Quando você pegar seu rumo
Estará andando com firmeza
Você disse que nunca o fez
Porque você pode morrer tentando
Porque você pode morrer tentando