30 de dezembro de 2011

Sem título sei lá que número.

O que tua falta me penetra.
É o que me questiono, sentado à mesa da varanda. Se importa, é noite fria e silenciosa. É Brasília, mas não é seca. É quase úmida. Numa quase chuva, essas que trazem ventos. Olhando para o céu, preenchido de nuvens, eu tento sentir a inspiração que os grandes poetas, presumo eu, sentem nessas horas solitárias e convidativas à escrita. 
Normalmente se escreve o que se sente. Eu, pelo menos, costumo escrever o que eu sinto. Nem que coloque o sentimento entre várias palavras, momentos e situações que o escondam. O que sinto? Bom, sinto saudades. E só. Ou não seria falta? Eu sinto falta. Sua. Eu. Sinto. A. Sua. Falta. Acho tão bonito isso.
Se falta, é porque já esteve. E normalmente te tenho para poder olhar. Eu te vejo, e te ouço, te vejo passar. E então você para de passar. É isso: você sai, e então me falta. E eu sinto dor. Uma dor forte que parece conseguir te fazer outra aqui dentro. Te enfia aqui e eu nem sei o que sinto: prazer ou angústia?
Até parece uma forma de proteção, uma válvula de escape. Ou melhor: uma forma alternativa de eu ter você. É sim um pouco brega, mas seguindo essa linha de raciocínio eu consigo entender essas frases de efeito que leio por aí: "você é minha droga", "o amor é um vício", etc e tal.
Às vezes me assusto com as coisas que escrevo quanto te penso.

Pausa: acabo por perceber que, sinto tanto a sua falta, e te criei tanto dentro de mim, que direciono a minha escrita à VOCÊ.  Quem? Essa escritura não tem destinatário. Seria tudo isso uma vontade inconsciente de desabafar o que sinto por você em letras? Pois, não, não o farei. O meu amor é segredo, é sagrado, e está sacramentado pela emoção. O meu amor é só meu, e dele só me resulta o que escrevo. O meu sofrimento não tem objetivo, ele não tem solução, e então nasce a escrita. Enquanto eu amar e sofrer, escrevo. E o leitor nunca será igual à pessoa que me inspira. Você, que me lê, nunca será quem eu amo. Se não, perde a graça. E vira realidade.

Voltando: sim, me assusto com as coisas que escrevo em estado de pensamento seu. Acabo por descobrir que sou um tonto completamente apaixonado. Que escreveria sonetos como os de Vinícius, se fosse capaz. Tenho vontade de ser galanteador como ele. De ter várias paixões e mulheres em uma vida só.
Esses grandes me inspiram a ter vontade até de fazer uma música em homenagem à. Ou textos intitulados Ode à você, o grande amor da minha vida. Nesses, de início, eu descreveria o seu corpo físico assim como o vejo. Pois não minto, meus olhos te veem como poesia humana. Meus olhos são cafonas. Meus olhos só veem linhas tênues, quadris cintilantes, olhos de caramelo. Eles veem o cheiro. Que o olfato tateia. Meu corpo tem seus sentidos trocados quando te vê passar. As palavras agradecem, porque você fica tão bonita quando parafraseada. Tentaria colocar em formas físicas a alma que você possui. Motivo do meu amor. Motivo da quebra de todas as regras. Motivo de tormento. Essa alma que me traz paz, e depois me tira. E por fim pediria proteção à Quem nos fez.
Que te guardasse, mesmo que longe de mim. Que te banhasse de felicidades, mesmo quando a minha se resume em falar de você. Ou te ver passar. Ou te ver. Te.

Eu escreveria tudo o que me desse na telha, mas sinto demasiado medo de abrir portas e não conseguir fechá-las. Quando escrevo, desabafo. Choro em letras, grito em frases, devaneio em textos. E quando o ponto final resolve aparecer, nem sempre consigo voltar à mim mesmo. Voltar à mim no sentido de aceitar que você não está aqui. Que me fez um buraco, mas que não posso tentar preenchê-lo. Afinal, isso que a dor da sua falta me faz - de te enfiar em mim - rouba as minhas noites. Me seduz no sono, onde posso te ter de tantas formas. E então gostaria de dormir durante toda a vida.

Ainda é noite, já chove, as nuvens ainda estão. Ainda tenho que voltar para a cama e tentar te prender em algum lugar que você esteja. Que não me venha, fantasiada, em sonho. Que se não acordo. E não quero acordar. E se acordar, terei que escrever. Te jogar nesse papel branco.

Já é dia 31 de dezembro de 2011. Não me sinto esperançoso. Não me sinto olhando o que fiz, nem planejando o que farei.
Não quero planejar nada. Vai que não me cabe. Vai que me folga.
Mas à você eu posso planejar que sorria. Posso desejar fundo sem que ninguém saiba.
Você vai sorrir ainda mais, amor. Você vai ser feliz, e quanto a mim, não te preocupes... Como já faz.
Continuarei aqui. Aceitando lições, papéis, fardos, dores, felicidades, angústias. Que já nem me importo mais.

Espero que essa conversa de mentira e o prazer da escrita me deem sono.
Estou cansado.

Boa noite
Céu.
Chuva.
Nuvem.
Frio.
Você.
Eu.
Papel e lápis (sagrados instrumentos).

Que sejamos felizes nas próximas noites que seguem.



9 de dezembro de 2011

Talvez eu nunca tenha conseguido dizer a que vim

Era aquele mesmo coração que começa a semana se pendurando na parede para ser mais uma vez o alvo de tiro ao alvo esse sim que se sente todo picado por agulhas que possuem veneno quase fatal e dói tanto exatamente por não ir a extremo algum apenas fica ali doendo como coisas sem solução ela então ali estava com os olhos abertos feito cachoeiras porém sem foco sem ação ela não estava mais ali ou na verdade não queria estar já estava tão cansada que preferia não se mexer
COMO SE NÃO SE MEXER FOSSE SOLUCIONAR ALGUMA COISA.
Ela precisava dizer a que veio e precisava dizer o que a doía há tanto tempo precisava dizer que não dizia há anos e que prendia tudo aqui dentro nesse coração machucado. preciSAVA.
Quando as palavras vem rápidas e intensas quando as palavras não tem ordem nem mesmo ponderação elas não são ouvidas... Elas são equivalentes a pensamentos que simplesmente passam e se esquecem
Ela não sabia mais ser ouvida nem se fazer uma pessoa ouvida por isso era cada vez mais machucada cada vez mais criticada afinal A PINTAVAM DA FORMA QUE VIAM e ela era ao ver deles alguém fechado em si mesmo alguém que só gritava e quem sabe alguém hipócrita para eles ela tinha a auto-estima como sua melhor amiga e era tão carne e unha da respectiva que exigia de si o melhor a ponto de ter síndrome de inferioridade se não o fosse.
Ela já não sabia mais como explicar que parecia conseguir ver o mundo em todos os seus viés e isso doía ela conseguia sentir o ódio que o pai dela sente e a vontade de se espancar que o irmão sentia ela conseguia sentir toda a dor do mundo e isso doía.
Nas costas.
Ela levava tudo isso e às vezes o coração jorrava sangue.
Doía nas costas e na garganta
E porque falar que doía no coração
Se o coração
o coração
já nem sabia mais falar
nem ouvir

ela estava cega muda surda
ela estava ela ali olhos abertos peito flagelado alma cansada
já não sabia mais dizer a que veio
já não mais
dizia
nem vinha
a que
querer.

a que vim?


eu digo?


vim?


a que?



como a vida muda sem a gente ver?

Quando eu era menina
No jardim das flores ela ficava lá, como uma estátua, observando as flores
Eu queria conseguir ver o momento em que as flores desabrocham
Ela também olhava pra cima, admirando as estrelas, e ao mesmo tempo pensava:
Como o céu anoitece sem a gente ver?

Um dia ela cresceu.
Depois que cresci fiquei como uma estátua observando a vida
E ela também olhava para dentro de si, e ficava tempos pensando:
Como a vida muda sem a gente ver?



sem título

deitada na cama ela dizia que esperava por alguém mesmo sabendo que isso nada mais era do que continuar deitada na cama até mesmo quando alguém chegasse porque esperar alguém deitada na cama ou em pé ou no sofá ou no banheiro é adiar o dia de mudar de atitude em todos os campos visíveis da vida esperar por alguém é basicamente a atitude que todos tomam ao sentir dor no peito ou na cabeça todos os tipos de dor podem remeter a alguém que ainda não existe ou que existiu e sumiu esperar por alguém nada mais é do que usar uma válvula de escape que não existe
pois bem ali deitada na cama ela pensava que esperava e chorava pois da cama não conseguia sair e o que mais doía: não conseguia pedir para sair. só sabia esperar porque esperar não pede verbo nem voz nem ação física e isso doía nela isso era covardia e por isso ali esperava.
por alguém. que a salvasse quem sabe da cama onde ela morre afinal esperar alguém na cama sem saber se levantar nem pedir licença é morrer.