29 de agosto de 2010

Correndo risco de morte por mim mesma.

Palavras quando ditas tem poder maior de ferimento.
É como uma arma que nasceu em você
e estando ali, parada, não te dói tanto,
a não ser a sua presença amargurável.
A arma quando arrancada leva pedaços.
Pedaços que definiam ou fingiam definir.
Eu não existo mais.
Mas é preciso existir.
Agora, tudo se resume no agora.
Porque o agora tomou rumos inimagináveis.
Nada parece realmente estar acontecendo...
Parece pesadelo e sim... Nem sempre os sonhos convencem.

Mais do que nunca, agora eu vivo só.
Sozinha e largada num mundo de gente.
Nem isso nem aquilo.
Eu.
Presa, torturada, amargurada.
Aquele velho e conhecido barco
Tonto e amarrado.
Embrigado.

E qualquer definição pode ser arma.
Sozinha e armada.
Correndo risco de morte
Por mim mesma.

Nuvem negra sempre negra
Que nunca precipita.

Nuvem negra que nunca precipita.





Vide vida.

Nuvem negra
que nunca precipita.

Assim a
menina se
prende a
nuvem.

As mãos de corda.

A menina das mãos de agulha.


Nesse sonho ela voa.
Mas morre.
Voando morre.

Com a nuvem negra eterna negra
Eterna. Às vezes nem os sonhos convencem...

Quando viver é um fato que dói.



Quando a vulnerabilidade é estado de espírito.
E o corpo é um oco de orgãos virados do avesso.
Quando os olhos, de tão saturados, não mais existem. E choram a falta de outros que o conheceram.
As mãos são as mesmas. O risco de morte por mim mesma quando a nuvem negra é eterna negra e não precipita.
O nu como exposição vulnerável.
O coração louco e desesperado, exposto, que o vendaval resseca.
Cada vez mais seco.
Mais fraco.
Mais salgado.
Jorrando sangue na luta pelo equilíbrio.
Trata-se de um tempo sem relógio.
Num mundo cheio, porém sozinho. Num mundo-moinho, aonde os sonhos não convencem. Aonde os sonhos são triturados. O mundo que é buraco negro
e que abriga uma vida doente.

Quando viver é um fato que dói.

18 de agosto de 2010

O mundo como sala de espera.

Do dia eu só espero a noite.
E da noite, só espero...

Espero meu ato.
E o fato.

Espero você e a vida
Que se confundem num céu de nuvens
Cheias.
Quero a precipitação dos seus atos e as lágrimas da vida.

Espero acordar minhas sonolentas descobertas
Ainda encobertas e em cobertas
Na cama que é leito do choro que meu corpo exala.
E do desejo que insiste em suprir faltas, e que cada vez mais cava buracos.

Eu espero não mais desejar queimando.
Para que o fogo que cria não seja o mesmo que destrói.
E machuca.
Não mais roube e sim doe.

Espero, mais que isso, o dia que o roubo seja troca.
Que o fogo só sirva para aquecer o que a coberta não mais encobrirá.

Eu espero e desespero.

3 de agosto de 2010




"Quem me vê sempre parado,
Distante garante que eu não sei sambar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu tô só vendo, sabendo,
Sentindo, escutando e não posso falar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu vejo as pernas de louça
Da moça que passa e não posso pegar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Há quanto tempo desejo seu beijo
Molhado de maracujá...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

E quem me ofende, humilhando, pisando,
Pensando que eu vou aturar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

E quem me vê apanhando da vida,
Duvida que eu vá revidar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu vejo a barra do dia surgindo,
Pedindo pra gente cantar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu tenho tanta alegria, adiada,
Abafada, quem dera gritar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar"


Francisco Buarque de Hollanda