28 de maio de 2011

Perdão aos sonhos sufocados

A minha alma é uma casinha de madeira.
Vezes visitada e enfeitada por dentro, vezes abandonada, caindo aos pedaços- quando tento retocar a pintura do lado de fora, para que ninguém que passe na rua desconfie de que aqui há dor.

O fato é que, já há algum tempo, venho mudando os móveis de lugar, proibindo a entrada de alguns, e implorando a visita de outros.
O que não mudei, mas abandonei, foi o chão... Que hoje é coberto pela poeira e pelas folhas secas que o outono trouxe pelas janelas abertas.
No meu eterno receio, ando de um lado para o outro, ouvindo o barulhinho que o meu peso faz ao quebrar as folhas. A sensação crocante do tédio.

Existem sonhos antigos enterrados embaixo dessa casa. E outros um pouco mais recentes debaixo dessas folhas. Tem cor brotando no canto da parede. Tem vida pulsando aqui em baixo.

Sento, então, na minha antiga poltrona. Essa que me faz olhar para a minha casa e perguntar o que estou fazendo aqui. Que caminhos segui e que invasões permiti... A minha poltrona é presa ao chão. Ela nunca é coberta, ela nunca se cansa de chamar à reflexão. A minha poltrona é como os morcegos de Augusto dos Anjos. É a consciência que nunca desiste.

A cor que brota por debaixo das folhas secas me dá vontade de mudar a minha casa de lugar e passear na floresta do mundo.
É nostálgica e parece que chama a atenção para tudo o que fui, e se ainda me toca, por que não o que sou?
Até que ponto as escolhas que faço são minhas? E até onde posso prometer e querer, se vida nos mostra que nunca seremos os mesmos? Convicções são árvores velhas e decadentes tentando se enganar de que nunca irão morrer. As convicções são ilusões materializadas.

O caminho existe ao pisar de cada passo, e é o passado quem nos conduz.
Eu vivo o passado do meu passo, e preciso saber que direção seguir.

Existe um mapa escondido por debaixo dessas folhas.

O tempo bate à porta, e eu sei que ele veio se queixar....
Eu o perdi.
E ainda assim, ele quer se reconciliar e me levar junto dele.
Quer que eu passe, assim, leve e sem que ninguém perceba, pela vida do mundo...

Mas antes, eu tiro essas folhas....
Eu liberto esses sonhos.
Eu os desperto do sono que eu provoquei, e abro o peito para o que ainda pode ser compatível as minhas cicatrizes...

Eu quero seguir o mapa dos meus sonhos.






25 de maio de 2011

Algum pensamento pós dia de cansaço com sentimentos de todos os dias

Chegou em casa com o ar cansado de terça-feira. Lembrou-se do quanto teria que ser forte para aguentar, até o fim da semana, esse papel de gente forte que se faz no trabalho. Foi então até o banheiro, lavou o rosto e olhou-se profundamente pelo espelho. No olho que olhava, moravam dúvidas que pareciam eternas. Teorias que não saiam da mente, parecendo não ter potencial nenhum para organizar-se e transpor-se em palavras.
Pensava sobre o limite da realidade e da fantasia. O que quer ser apenas sonhado, e nunca realizado, por não ter lugar no mundo que nós conhecemos. Pensava sobre os sentimentos, e os sentia enquanto se olhava. Via, por dentro, as pessoas e as situações que os despertaram e se perguntava sobre a veracidade da existência, e da pureza do ser. Pensava em suas projeções. Sonhava tudo que já foi real. Lembrava de momentos com uma nova aquarela de cores. Confundia a fantasia dos amores com a realidade das dores.
Sentia falta de um carinho. E vontade de admirar. Lembrava-se dos tempos em que almejava uma vida distante - em que sonhava como sonham as boas crianças.
Sacodiu a cabeça de um lado para o outro e, olhando para a torneira que pingava, lembrou do tempo, do prazo, do que é vento. Falou em voz alta: "Não sonho mais".
Sentiu medo
E continuou a viver.