28 de março de 2011

Não existe porta de saída de nós mesmos.

Quando sinto vontade de ir embora
Os meus olhos choram a insatisfação de serem meus
E me culpam por essa vida aflita
Por esse coração doente.

Não aguento visitar a minha dor.
Eu a prendi sem vencê-la
E ela bate desesperadamente aqui.
Talvez seja o único lugar onde poderia viver em paz.

26 de março de 2011

O tempo usa uma coroa e um incansável discurso.

O tempo passou.

Foi o Sol que se pôs muito rapidamente
Ou a vida que o puxou dos braços dela?

São as horas passadas traduzidas em imagens que flutuam sob o céu
É a música de fundo que não me esquece
Ou

O tempo passou.

É a tristeza que dá lugar para a alegria
Ou a alegria que senta um pouco pra chorar?
É o tempo que lembra ou

O tempo passou.

Mas ela não.
Ele
O tempo
Passa por ela.
Por entre ela
Por ela
Sussurrando a insistência

Não há pôr do sol que impeça
O tempo
De lembrá-la do amanhecer do seu corpo naquele momento
Não há vida ruim que passe na frente da vida alegre que o tempo insiste.
O tempo não é gentil com a tristeza.
Ele insiste.

O tempo passa
Com seus tempos passados:
É o tempo-rei da vida
Com seus séquitos – apenas esses que venceram
Que salvaram
Que marcaram a pátria do corpo
Passa por ela
Sempre
Rápido
Incansável
Por entre músicas
Por entre cores
Por entre pernas
Entre cheiros
Entre sonhos.

O tempo passou.
E ela não passa.

Ela, mais uma vez, com suas mãos estiradas, tentando fazer parte: ser vento. Ser tempo. Ser arte.

12 de março de 2011

Sem amor a língua dos homens e dos anjos nada seria (e nada é).

Quero dizer que vim para não dizer.

Continuar calando o que cala...
O que diz sempre mais.
Não é paixão...
Nem alegria...
Nem satisfação...
E nada de tristeza ou ódio.
Febre ou dor...
Simplesmente o silêncio
Que mais eficaz seria perto dos teus olhos...
Não seria só o silêncio do peito...
Mas o do céu. E das mãos suadas.
Dos carros, e dos passos...
E dos pensamentos rápidos e reflexivos que nunca param....

Vim para dizer o indizível, simular o que não se traduz em letras...
Somente em calor...
Em respiração...
Em olhar.

Tudo acaba, mas parece que esse silêncio demora.
Ele deixa de ser assim que a chuva não mais for gostosa...
Assim que algumas músicas não tocarem mais. A mim.
Somente quando não mais a arte for no meu âmago
E quando a mágoa desmascarar o encanto.

Isso que diz sempre mais e que não precisa de palavra
Amor.
Quero seu esclarecimento então como quero o meu.
Sua paz como quero em minha morada.
O sagrado e o terreno bom...
Quero felicidade pro silêncio soar melhor...
E continuar existindo
sempre o indizível...
calor...
respiração...
Olhar, então?

(É dor que desatina sem doer)