8 de abril de 2011

Manoel de Barros, Lições de R.Q

"Aprendi com Rômulo Quiroga (um pintor boliviano):
A expressão reta não sonha.
Não use o traço acostumado.
A força de um artista vem das suas derrotas.
Só a alma atormentada pode trazer para a voz um
formato de pássaro.
Arte não tem pensa:
O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo.
Isto seja:
Deus deu a forma. Os artistas desformam.
É preciso desformar o mundo:
Tirar da natureza as naturalidades.
Fazer cavalo verde, por exemplo.
Fazer noiva camponesa voar - como em Chagall.

Agora é só puxar o alarme do silêncio que eu saio por
aí a desformar.

Até já inventei mulher de 7 peitos para fazer vaginação
comigo."

O que será que seria?

Eu também penso o que será que seria.
Quanto aos beijos a mais que me daria
O olho aberto que me cobria
O arrepio da espinha que me sentia
O pulsar de veias que me rompia
Num fluir de corpos à regalia
O que será que seria, amor?
De uma tarde antiga, mas não tardia?
De um sol na pele que irradia?
O que será que seria, se ria sem nada dizer
E ia sem me querer
E andava pela estrada afora
No dia de não te ver
E eu não me daria
E você ria
E ia
Sem me dizer...