28 de dezembro de 2013

04 de dezembro de 2013

Eu não entendo a vida. Pensei muito sobre isso durante o decorrer dos meus dias. Estive vivo e sempre soube que não entendia nada sobre isso. Nunca quis saber muito, quem é que quer? É coisa de doido querer saber porque estamos e sabermos por que estamos. É coisa de tolos querer ir além do que a ciência explica. É um buraco sem fundo. Que impulso é esse a que chamamos vida, e o que é morte, hoje eu estava observando o pombo que me acordou e estava na janela. Seus olhos parecem colocados. O pombo parece um brinquedo. Mas me disseram que dentro dele mora o impulso da vida. Até que se vire o seu pescoço, aí será só matéria, matéria inerte, eu acho mórbido, mas imagina, o que me diferenciará do pombo quando nós dois formos matéria inerte... Por que penso nisso? Por que acho que o pombo não pensa nisso? Porque ele não é tolo, é claro, ele pensa que se vivo está, assim deve se manter, e come, e procria, e se defende. Nós somos todos tolos, humanos amadores em viver. Quanto tempo será que perdi...

03 de dezembro de 2013

       E quando se acorda e não se sente nada - só o frio, nem dormência? A isso chamam felicidade ou tédio? Não sei se satisfeito ou vazio. Cheio ou farto, preenchido ou ok. Transbordo, não. Isso eu sei que não. O transbordo me tem num além que bem sei, e não há agora. Não te vejo aqui. Estou somente justo em mim. A medida certa, na borda do corpo, nada além dele, e ele só o frio sente. Dá uma espécie de melancolia, mas não chega a ser uma sensação propriamente dita. Nem dormência, minha flor de maracujá. Até agora - é meio-dia, que horário mais vazio -, a palavra é nada. Sinto que nesse nada tem coisa, enfim, reflito depois de almoçar.

(Hoje a enfermeira vai trazer sopa de letrinhas e eu só verei N,A,D,A,N,A,D,A...)

26 de dezembro de 2013

Eu tenho a morte como companheira de quarto



Ela dorme aqui ao lado e é sempre silêncio. A morte é tão calada que eu acho que tenho sede e eu vou até a cozinha sem vontade de voltar. A morte vegeta, é inerte, é isso que me assusta nela. Ela existe, é material, e é matéria morta. 
Eu durmo de frente pra morte. Estou cara a cara com ela - mas ela mal me vê, a morte é inconsciente.

Quando eu tenho preguiça de ir até a cozinha, eu gemo, pra ver se ela ouve e vai me buscar um copo de água - e quem sabe nunca mais volte -. Eu gemo, tento falar, mas me dá um nó no peito e eu não consigo.
 
Eu tenho a morte como companheira de quarto, e tento olhar lá pra fora. As janelas estão enferrujadas e já não se abrem tão facilmente. Às vezes chove aqui dentro e ninguém vê. Ninguém ouve os trovões. No máximo escorre alguma coisa pra varanda, e o tempo limpa. 
Estou tentando dizer, mas eu não sei mais como sair desse quarto. Estamos juntas e atadas, jamais vamos nos separar.
Aqui chove.
Às vezes florece algo no meu peito, e eu sorrio resignada.
Eu sorrio quando ela morre um pouco.




2 de dezembro de 2013

Sabe, que às vezes fico pensando onde é que você está não lembrando de mim. O que é que anda fazendo, que nem passo pela sua cabeça - você não me esquece, eu nunca fui uma lembrança, fui no máximo alguém que existe, e você lembraria de mim se me visse em alguma esquina sem querer. Oi, como vai, um beijo, pra mim seria o destino que me levou a você e pra você seria somente um acaso, um descaso, um minuto a mais pra conta chegar, e acabou que nos esbarramos por aí.

Há alguns meses eu me esbarrei em você, e também me pergunto que tipo de descaso do tempo fez com que meus olhos enxergassem os seus. Porque, com toda a certeza do mundo, meus olhos devem ter te visto por muitas e muitas vezes - o mundo é tão gigante e pequeno ao mesmo tempo -, mas nunca enxerguei sua existência assim tão de perto quanto naquele dia que te conheci. Nunca soube que existia alguém no mundo assim, justinho você. Me seguro tanto pra não ficar piegas, e eu acho engraçado enquanto escrevo, porque vou me lembrando de cada detalhe e você nem mesmo me pensa, nem mesmo me esquece em algum bar da cidade.

Descobri que o segredo pra muita coisa está no motivo. Se quero andar, me pergunto por que, e a resposta será a justificativa mais plausível para que eu consiga andar. Há que se ter motivos na vida, pra que quer enxergar? E eu diria, pra ver, pra olhar, pra entender. Pra que te conhecer? Eu diria, pra amar, e foi por aí que tudo me bastou, foi por aí que eu pensei

- que nem mesmo me esqueça
mas que eu possa,
ao menos,
me lembrar.

Esqueça todos os dias em que não te amei

esqueça quando não me dei desde o meu avesso até o meu além
esqueça quando fui só imagem, quando fui só língua
quero ser tua até pertencer tanto e virar
paisagem

quero ser tua verde-azul miragem
colorida passagem
para o ainda mais

esqueça quando fui só beco
que eu seja a saída
lembre-se apenas dos dias que te quis
daquele dias sem despedida

sou tua saída e tua entrada
sou o teu adiante
sou teu caminho
de curvas perigosas
mas, lembre-se somente
dos dias
em que te
amei

Eu e os dormentes

Eu,
Dormente,
Te espero
Na estação

Estático
Eu vejo a gente
Toda a gente
Passar
Olhando pro chão

A angústia
É dor
Dormente
Que não dorme,
Nem mente -
Angústia
É dor que espera
Alguma coisa
Da gente

Um trem
Um aceno
Um adeus
Uma decisão:

Angústia é dor da mente
Que vai
Pro coração

1 de dezembro de 2013

Um dia te olho tudo o que sinto. Vou te sentir tudo o que amo. Quero ver você enxergar tudo o que ouvir. Deixe que toquemos tudo o que existir, deixe que tudo exista tanto que possamos tocar o tanto e o tudo.
Falo sempre de ausências - presenças exageramente profundas. Presentes bem no fundo.
Por dentro e fundo você foi me escrevendo e eu já tenho quase um romance de palavras que te descrevem.
Sem querer e sem saber, você escreveu uma história no meu peito. É bem aqui dentro e lá no fundo, que eu não alcanço, onde o seu amor mora. E pulsa que dói. Sim, o amor dói.
Falo sempre da sua ausência e você sempre insiste em se ocultar. Eu quase me acostumo, já quase aceitei esse amor de fora pra dentro e cada vez mais dentro e apenas dentro. Só que ouço seu nome pelos corredores e me pulam os nervos. E me saltam os arrepios. Ah, eles transbordam a carne...

Sobre a sua distância



Eu tenho uma ânsia disso tudo. Nasce na boca do meu estômago, mas vem aqui pra minha cabeça. Sabe quando você não consegue ficar quieto porque seus pensamentos simplesmente te impedem? Aposto que você sabe. Principalmente a essa hora da noite. Nós dois sabemos que quando fica escuro o pensamento vem nos atormentar. E aí a gente não dorme. Mas nunca me dormem os seus pensamentos, sempre me doem os seus pensamentos, sempre essa ânsia quando são por você os meus sentimentos. E daí que tudo o que escrevo é clichê demais, é tudo clichê nesse mundo, e ninguém me lê uma hora dessas, são quase uma e quem não dorme tenta dormir.
Eu tento te dormir muitas vezes ao dia. Quando eu acordo, tento te por na cama e sair bem rápido pra que você não venha atrás. Mas você sempre vem.
Você sempre vem atrás de mim, mas fica sempre distante, você é sempre esse ponto desfocado em algum lugar perto de mim, ou uma sombra, que seja. Mais um clichê. Mas é isso: você é intangível. E me dá uma ânsia tudo isso. Fico até zonzo.
A saudade -
é só do que escrevo

(A saudade é só o que sinto)

Quando me enfrento
A saudade é só o que vejo

Não são saudades suas,
Engana-se, se assim pensa

São saudades minhas
Dos dias que te vi
Dos céus que sempre víamos
E os dizíamos lindos

Olha o céu agora!

E diz que também sentiu saudade
Daquelas tardes
E das poucas horas
Em que nos conhecíamos
Nos segundos correntes
De sorrisos bobos

Ouve aquela música
E diz que sente saudade
Da chuva que caia
Quando você ouvia

Sente aquela alegria
E o cheiro do novo
De novo

Me veja de novo
E diz que sente a falta
E diz que ainda me tem
Em suas ausências

Saudades, mas não suas
Saudade de te ver passar
E se mover

Se chover
E a cidade ficar vazia
São saudades outras
Que sentirei
Mas não suas
Ainda não deixei que os grãos caíssem da minha mão

O tempo de amar é só um

Não quero assistir
Grão por grão
Voltar pra imensidão
E ser engolido pelo mar

Quem vai mergulhar sou eu
Com tudo na mão,
Junto de você,
E devolveremos em águas
Tudo o que o amor
Nos deu

O tempo de amar é só um
E esse tempo
É como o tempo
Do mar

Entre uma onda e outra
Já não se trata do mesmo
Tempo

(O tempo de mar é só um)
Eu sinto, por você
Uma vontade úmida
Que vai pingando
Que nem a chuva
Poesia
Que
Cai

Eu sinto
Em você
Um pôr-do-sol rosa
Alegria
Que
Se vai
Fica

Porque sinto
Por você
Um amor flor
Uma semente
Que sabe-se lá
Quem plantou

Eu sinto um medo acre
De me tornar um ser agreste
Quando você não mais
Me sentir

Eu paro tudo
Tudo mesmo
Quando eu vejo
Você existir
Tá chovendo. Por que a chuva faz a gente ter tanta saudade? Existe algo na chuva, algo além do frio, algo além do barulho, parece algo que ressoa tudo o que não foi. A chuva sempre parece ser a preciptação das coisas que se abreviaram. Como se as nuvens guardassem em si todas as palavras não ditas, os momentos que estivemos juntos e que eu não disse que te amava, nem peguei na sua mão, nem tentei me aproximar. O céu guarda essas coisas, é isso, e aí precipta nesses dias nublados tudo tudo o que não foi. E te chama em forma de saudade. No arrepio do meu corpo.
E eu derramo o chocolate quente, e se fosse vinho também transbordaria, nem tudo que esquenta é como o seu corpo, nem tudo que esquenta é como você, ta aí a prova, tentei dormir e não consegui, e quanto aos livros... Ainda parece que você está aqui. Tudo me acende, tudo te falta, e tudo te tem.