11 de agosto de 2011

Prestes a ligar o botão do foda-se

Passaram-se pouco mais de 5 anos e agora chego, então, a alguns centímetros do botão mais esperado: o do foda-se. Falo aqui do meu eu cênico, do meu eu na caixa cênica, no quadrado cênico, e quem sabe também no meu eu da vida, que terá suas atitudes todas refletidas na encenação. Cinco anos fazendo exercícios e mais exercícios, peças acadêmicas atrás de peças acadêmicas... Quantos textos, quantos cadernos, quantos livros começados a ler e deixados na cabeçeira por medo. Por sentir a dor que o bichinho que morde nosso peito provoca. A dor de olhar pra dentro e se reconhecer pequeno a cada passo.
O ator é um ser vaidoso. Aprendi a aceitar que sim, somos todos exibicionistas. E qualquer escorregão, ou até mesmo uma mordidinha que nos faz sair da teoria, praticar e então intrigar-se com o próprio erro, nos fere a alma. Admito então a causa da minha dor desta noite -que não parece nada vaidosa, mas eu encaro a mim mesma e digo: Sim, vaidosa, exibicionista e o pior: ansiosa como o quê. A minha dor tem nascimento na vontade, no amor ao teatro, no amor a arte, na admiração dos grandes, e na pressa.
Essa que não nos deixa sermos perfeitos, que não nos deixa exercitar, experimentar, aceitar o tropeço...
Cinco anos não são nada, se não o início de uma preparação do terreno. Que agora está ainda sendo preparado, para - não sei em quanto tempo - começar a plantação. Fazer o quê? Se tantas vezes agradeci aos Céus por escolher uma profissão que não me exigisse estudo para o vestibular, que agora eu acorde e veja que o ator nunca para. Eu sempre disse isso mas hoje sei que ele nunca para não só por sede, e necessidade de aprimoramento. Mas também por nunca se sentir apto em si mesmo. Por ter sede de reconhecimento, além de conhecimento, e por isso mesmo nunca se sentir completamente farto. Farto dos aplausos. Nós queremos sempre mais!
Se não, óh meu Deus, seremos sempre tão pequenos!
Até parece que não sabemos que nós temos que nos focar no nosso futuro mais próximo, e ele não passa de uma concentração. De firmeza, dedicação. E de valorizar os momentos da vida como instrumento.
Teatro é poesia, é arte puríssima. E a gente costuma colocá-la sempre na parte emocional da gente. Tirá-la de lá, isto é, colocar a fantasia fora da fantasia pode ser dificil pra muita gente. Inclusive pra mim, que tenho me reconhecido um tanto Amélie Poulain, vivendo somente aqui, e não fora.
Coragem é o que me falta, de aceitar desafios, olhar para o meu erro, levantar a bandeira dele e com isso mostrar um grande acerto.
Deixar de ser covarde e me mostrar ridícula em cena - ao ponto de me travestir de outra pessoa, e emocionar a todos.
É uma linha tênue que divide o absurdo, o impróprio e o bizarro do mágico, provocante e encantador. Essa linha se chama eu. Eu interior que morre de medo! Que morre de vaidade, isso sim, correndo o risco de encantar e logo depois decepcionar por querer além da mão o braço, as pernas, o corpo todo.

Voltando ao título que dei ao meu pensamento posto aqui em palavras, me vejo apenas hoje perto do botão do foda-se, que se resume em algo que vai me livrar, ou apenas impulsionar, a esquecer toda essa vaidade boba, de ter coragem, de sair da fantasia com a outra fantasia nos braços e nunca mais largar, por mais que esteja no mundo de verdade. Que eu carregue para todo lugar a minha caixa cênica e nunca mais a abandone. Que eu diga a que vim de peito aberto pro mundo, que eu semeie a magia, a alegria, a paz e todos os outros mundos que possam despertar sementes em outras pessoas.

Eu quero dizer a que vim
Eu vim para atuar
E assim, dizer.


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