24 de maio de 2013

Sobre o próximo passo

Sobre o próximo passo

"A palavra experiência vem do latim experiri, provar (experimentar). A experiência é em primeiro lugar um encontro ou uma relação com algo que se experimenta, que se prova. O radical é periri, que se encontra também em periculum, perigo. A raiz indo-européia é per, com a qual se relaciona antes de tudo a ideia de travessia e secundariamente a ideia de prova [...] A experiência não é o caminho até um objetivo previsto, até uma meta que se conhece de antemão, mas é uma abertura para o desconhecido, para o que não se pode antecipar nem pré-ver nem pré-dizer".
BONDÍA, Jorge Larrosa.

http://www.youtube.com/watch?v=5PH4OqK2VDo
http://claricelispector.blogspot.com.br/2008/07/lngua-do-p.html

    A necessidade de dar mais um passo. Essa, que temos em nossas vidas pessoais. Essa, que urge na vida social. A partir da reflexão sobre experiência, educação, arte e autonomia, discorro sobre aquilo que me provocou. Aquilo  que me aconteceu. A minha defesa é pelo que nos acontece. E não pelo que simplesmente acontece ou se passa.
    Hoje tudo parece passar tão rápido. É tudo tão intenso e ao mesmo tempo tão superficial. Tanta informação e tão pouca experiência. Tão pouco tempo e não vivenciamos quase nada da forma que deveríamos. A moça indiana me fez acreditar um pouquinho mais na possibilidade de dar o próximo passo. Crianças aprendendo por meio de suas próprias experiências, crianças que não correspondem ao que nos parece ser quase um fado moderno: a redução e a simplificação.
    A moça do metrô, aquela da Clarice. A moça da Suzanne. Elas também me aconteceram. Porque, se não essa, qual é a utilidade real da arte? Nos possibilitar a experienciação por meio do contato com a vida humana. "Entender seria perigoso para ela" - disse o narrador em A Língua do P. Entender é perigoso para todos nós. E a palavra perigo me instiga assim como a palafra "infectar" instiga a moça indiana do vídeo. Quando penso em perigo, penso também em aventureiro, discutível, arriscado, ousado, incerto, indeciso, audaz. Entender foi perigoso para a protagonista e, portanto, ela não só se salvou, mas se conheceu melhor. Se entendeu ainda mais. Eis aqui as características do nosso próximo passo. O perigo da arte nos leva ao próximo passo. E se o nosso próximo passo nos  levar a nos olhar mais? A nos conhecer melhor? A ter mais autonomia para irmos adiante e ainda assim juntos?
    Eu tenho tido uma grande vontade - e eu queria que todos sentissem essa mesma vontade - de deixar que as coisas me toquem. De tocar as coisas. De me entregar ao inesperado da humanidade e ouvir. Eu me lembro de algum mestre me dizer que quando lemos, abrimos um corte para que o que for lido nos penetre. A música penetra os nossos ocos e nunca mais somos os mesmos. Que deleite seria ver a educação firme no princípio da experiência e do sentido, abrindo portas e mais portas pra arte entrar e também fazer o que saber fazer. Próximo passo: de mãos dadas, tentar dar o próximo passo.

Recomendações para se viver uma boa experiência ou
espécie de referências bibliográficas:
LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G.H. O início do livro: reflita sobre suas terceiras pernas. O mundo também tem diversas.
BONDÍA, Jorge Larrosa. Nota sobre a experiência e o saber da experiência*. O meu é todo grifado. Minha nota: diminuir a ansiedade, o ego, o mecânico. Aumentar o lúdico e olhar para os outros.
   
   
    

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