Já tensos, os pés pisam o chão enquanto o corpo, igualmente tenso e ansioso, se espreguiça.
A garganta, tentando se preparar vibra na intenção de ser aquecida.
Os pensamentos voam longe. A tão ensaiada peça já não causa entusiasmo. Os problemas são maiores.
O vento frio que bate no rosto deixa a garganta ainda mais irritada e ela, furiosa, insiste no aquecimento. Procura abrigo e se movimenta.
As mãos procuram o roteiro.
Agora os pensamentos mudaram de rumo. O teatro é a artéria. É o sangue. É mais: é o coração que bombeia a vida.
O dia segue.
A maquiagem começa. O falatório também.
Uma concentração descontraída, e a voz às vezes faltando com o compromisso.
O figurino molda o corpo, que agora é ainda mais visitado pelo personagem.
Os mesmos pés tensos e ansiosos pisam, enfim, o palco.
As mãos suam frias.
A música toca. O pensamento se contraria e se arrepende. Não sabe nem ao menos o que está fazendo ali, repetindo frases feitas periodicamente.
A hora chega. O holofote acende. Os pés e as mãos ficam quentes. O coração bate forte. (O coração que bombeia o corpo e o coração que bombeia a vida.).
A garganta solta a sua voz, e ela ecoa. O piloto automático é ligado.
O teatro está lotado. O prazer é anestesiante e por vezes duvidoso. A respiração fica profunda e ciclicamente mais curta.
As luzes se apagam.
E agora os pés, a garganta, o rosto, o sangue e as mãos finalmente relaxam.
O mesmo figurino é abandonado pelo personagem, mas continua ali, secando todo o suor que ele provocou na atriz.
Seu coração é o único que continua batendo forte. Dessa vez de satisfação.
O cérebro trabalha mais lentamente e a endorfina rola solta.
Tudo ferve quando ele provoca. Tudo ferve depois que ele nos deixa ser. Tem gosto molhado, salgado. Tem gosto úmido o pós-cena.
Tem magia o pós-teatro. Esse que nos faz bobas hipnóticas. Verdadeiras Bacantes sem estarmos necessariamente na tragédia de Eurípedes.
Dionísio criou meu coração. E ainda que o corpo relaxe de satisfação, forte ele sempre baterá.
Foi bom pra mim. Como sempre.
me fez sentir saudades dos meus tempos de palco
ResponderExcluiré assim...
ResponderExcluire quando antes de entrar nessa roda-viva eu esqueçia meu proprio nome?
é como tomar sal de fruta com coca cola!
Beijo e beijos