Ela
dorme aqui ao lado e é sempre silêncio. A morte é tão calada que eu acho que tenho sede e eu vou até a cozinha sem vontade de voltar. A morte vegeta, é
inerte, é isso que me assusta nela. Ela existe, é material, e é
matéria morta.
Eu durmo de frente pra morte. Estou cara a cara com ela - mas ela mal me vê, a morte é inconsciente.
Quando
eu tenho preguiça de ir até a cozinha, eu gemo, pra ver se ela ouve e
vai me buscar um copo de água - e quem sabe nunca mais volte -. Eu gemo,
tento falar, mas me dá um nó no peito e eu não consigo.
Eu
tenho a morte como companheira de quarto, e tento olhar lá pra fora. As
janelas estão enferrujadas e já não se abrem tão facilmente. Às vezes
chove aqui dentro e ninguém vê. Ninguém ouve os trovões. No máximo
escorre alguma coisa pra varanda, e o tempo limpa.
Estou tentando dizer, mas eu não sei mais como sair desse quarto. Estamos juntas e atadas, jamais vamos nos separar.
Aqui chove.
Às vezes florece algo no meu peito, e eu sorrio resignada.
Eu sorrio quando ela morre um pouco.
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